Eberth Vêncio

Temos vagas para perdedores

Temos vagas para perdedores

Temos vagas para perdedores. Não é preciso experiência. Temos vagas para os que vagueiam de queixo erguido, a se fingirem de empedernidos feito as pedras do caminho. Temos vagas para os homens feitos que se aninham fragilizados nos braços magros do esquecimento. Para os que se aquecem com a saliva de um romance. Para os que se perdem em constelações distantes, para além das estrelas fugidias. Para as vadias que, seja noite, seja dia, tremulam as carnes quentes sobre cadeiras frias, em candentes sintomas de abstinência de mais querer o amar.

Conto gregoriano com nuanças de picardia e de cinismo

Conto gregoriano com nuanças de picardia e de cinismo

No sentido figurado, era apenas mais uma dentre tantas noivas de Cristo. Uma freira cabreira, de olhar contrito, novata nos dilemas existenciais, buscou tento para acudir ao reitor. Pelo fato de ser ele um doutor, haveria de estar mais bem experimentado à dor, ao amor e aos demais cuidados com o andor, pois, o santo era de barro e a vida, nada mais do que uma sucessão de rimas pobres.

Mais um otário à frente de seu tempo

Mais um otário à frente de seu tempo

Em tempos de meninice, bom mesmo era relevar, mas, eu não relevava. Certo mesmo era levar a vida na flauta, mas, eu não levava. Prendia o futuro com as mãos em ânsias de devaneio e ele sempre escapava entre os dedos. Nada mais natural. Em dado momento — degredo de mim mesmo — a descoberta da finitude humana fez-me reconhecer que, muitas das vezes, os momentos felizes aconteciam somente pelos lépidos olvidos do sofrimento.

Plano B para não falhar na Hora H à procura do Ponto G

Plano B para não falhar na Hora H à procura do Ponto G

Ninguém é obrigado a tolerar os chiliques dos outros. Em termos psiquiátricos, o editor do jornal para o qual eu escrevia os meus panfletos era um completo analfabeto funcional. Insensível como uma urna funerária, ou melhor, insensível como uma urna eletrônica, o sujeito nunca me pareceu uma companhia confiável. Aliás, não entendia patavina sobre o processo criativo dos seus articulistas. Arrematou aquela joça pagando uma mixaria num leilão de massas falidas.

O corpo é uma casa arrombada pelo tempo

O corpo é uma casa arrombada pelo tempo

O corpo é uma casa arrombada pelo tempo. Entra ano, sai ano, o controle esfincteriano vacila, se desajusta. O sangue coalha no seio varicoso de veias que perdem o molejo da elasticidade para adquirir a dureza plástica de um cano ou de um canudo. Mudo, o cérebro pensa que aquilo tudo é um ledo engano, fecha curto, passa pano e requenta a marmita encefálica com papas de neurônios, sob a tempestade de sinapses chocantes dos axônios desencapados.