Eberth Vêncio

Meus heróis morreram de artrose

Meus heróis morreram de artrose

A esperança é uma espécie de fanatismo. Do tipo causa perdida. Eu não sei como perder e não sei pelo que esperar. Portanto, nada quero de mais daquele que transpira e que se insinua pelas plagas mundanas. A morte é um fenômeno natural da matéria animal humana que muito me inspira.

Depois das eleições a gente se ama

Depois das eleições a gente se ama

Ultimamente, passaram a se sentir um tanto deslocados naquele condomínio de bacanas. Se procurassem direito, talvez, quem sabe, encontrariam algum gato pingado que compartilhasse a mesma visão de mundo e que votasse alinhado com eles. Eram um casal burguês com coração proletário. Pensaram em se mudar para uma casa mais modesta, noutro bairro menos elitizado, mas, concluíram que o estigma de serem bem-sucedidos financeiramente não era motivo para constrangimento.

Ninguém tem culpa por amar desse tanto

Ninguém tem culpa por amar desse tanto

Viver é resistência. Quando ele se foi, eu já era um sujeito adulto. Restou claro para mim que ele decidiu desviver à revelia. Foi fraquejando. Foi definhando. Foi se imiscuindo em definhar. Foi amiudando os músculos e apagando as faíscas das sinapses, até perder a conexão com os instantes e lhe faltar voz suficiente para solicitar o obséquio de sucumbir em domicílio, no quarto de sempre, no quieto de antes, quando ainda era vivaz.

Não confio em médicos que nunca examinam

Não confio em médicos que nunca examinam

Bom mesmo era o doutor Pecker que colocava as mãos na clientela sem pressa, malícia e asco. Sobretudo, aceitava o pagamento em bandas-de-leitoa. Decorava bulas, sonetos e até “O Navio Negreiro”, de Castro Alves. Tinha cultura e boa memória. Para tratar pedras nos rins, quebrava os rigorosos protocolos científicos ao receitar os caminhos tortuosos de Drummond.

Desculpa, planeta

Desculpa, planeta

Desculpa, planeta. Ver-te assim adoecido me entristece. A tua situação crítica tira-me o ar, literalmente. É tempo de explosões, de fumaça, de lamentações e de outros pensamentos tóxicos. Desculpa por embalar o presente com camadas plásticas de uma felicidade perecível não retornável.