Crônica

Casamentos são para sempre — até que a vida os separe

Casamentos são para sempre — até que a vida os separe

Em nome da felicidade dos casais, as cerimônias matrimoniais religiosas deviam ser radicalmente reconfiguradas. Tá aí uma medida para anteontem. A ladainha do “até que a morte os separe” é uma incorreção flagrante, um equívoco. No mínimo, uma brutal ingenuidade. Porque a morte não separa nada! Ao contrário, com duas ou três exceções, alguém que enviúva fica ligado para sempre à lembrança do cônjuge que partiu. Ser viúvo é uma espécie de tatuagem emocional, um estigma indelével, uma cicatriz que até se pode amenizar, mas nunca se apaga totalmente.

Motivos banais para ser feliz

Motivos banais para ser feliz

O senso comum, os livros de auto-ajuda, a maioria das ciências sociais, como a política e a psicologia, e até mesmo as religiões sustentam que o bicho humano tem vocação para ser feliz. Talvez seja essa uma das superstições mais bem disseminadas e sem contestação nos dias de hoje. Na verdade é muito cômodo, simpático e agradável concordar e agir como se todos nós fôssemos dotados do temperamento de ser feliz. Além de que a crença de que podemos alcançar um estado de felicidade na vida nos impulsiona a todos e sustenta a grande indústria do mundo, nos seus aspectos mais vorazes de produção e consumo.

Caim Entertainments presents: free violence

Caim Entertainments presents: free violence

Eu poderia simplesmente intitular esta crônica na nossa língua pátria, valendo-me dos vernáculos em português. “Caim Entretenimentos apresenta: Violência Gratuita”. Não. Os brasileiros — dos mais humildes assalariados até os ricaços viajantes metidos a sabichões bilíngues — flertam o tempo inteiro com o glamour do estrangeirismo, o que não deixa de disfarçar um bocado o complexo de vira-latas, de nação inferior e subdesenvolvida, no que tange a índices como PIB, IDH e a PQP.

Não há um lar tão pobre que não tenha televisão; já o livro…

Não há um lar tão pobre que não tenha televisão; já o livro…

A televisão foi disseminada a tal ponto que não há uma casa neste país que seja tão pobre que não tenha uma televisão. Já o livro é um objeto extremamente escasso. Até em casa de classe média os livros que existem são desviados para peças de decoração. Pode haver livro, mas não há efetivamente leitura. E, quando se lê, é autoajuda ou manual de instalação. Quando muito. O hábito da leitura lamentavelmente ainda não conseguiu inserir-se no cardápio dos valores da nação brasileira.