Crônica

Histórias de um mundo infantil e louco

Histórias de um mundo infantil e louco

Sentia-se mais animado, finalmente. Aquela cena matinal, escabrosa, dos policiais cavoucando o quintal do vizinho, em busca do corpo da menina desaparecida arruinara completamente o seu dia. Isso até surgir aquela criaturinha que falava pelos cotovelos. Foi como se um raio de sol tivesse penetrado por uma pequena fissura e clareado um breu de miséria e de desencanto no qual ele se encontrava aprisionado.

Meus heróis morreram de artrose

Meus heróis morreram de artrose

A esperança é uma espécie de fanatismo. Do tipo causa perdida. Eu não sei como perder e não sei pelo que esperar. Portanto, nada quero de mais daquele que transpira e que se insinua pelas plagas mundanas. A morte é um fenômeno natural da matéria animal humana que muito me inspira.

Depois das eleições a gente se ama

Depois das eleições a gente se ama

Ultimamente, passaram a se sentir um tanto deslocados naquele condomínio de bacanas. Se procurassem direito, talvez, quem sabe, encontrariam algum gato pingado que compartilhasse a mesma visão de mundo e que votasse alinhado com eles. Eram um casal burguês com coração proletário. Pensaram em se mudar para uma casa mais modesta, noutro bairro menos elitizado, mas, concluíram que o estigma de serem bem-sucedidos financeiramente não era motivo para constrangimento.

Grupo do zap

Grupo do zap

A mensagem diária de bom dia aparece acompanhada de uma imagem colorida: pode-se ver o mar e o horizonte, o sol surgindo. Um dos administradores cumprimenta a todos no grupo, mas sem imagem. É respondido por outro administrador, rico empresário. Em seguida, o jovem, chamado pelos demais de Jornalista, surge com seus Informes do dia. Letras em negrito e carinhas e mãozinhas e coisas do tipo, chamam a atenção dos leitores idosos, ali maioria, e ilustram a longa mensagem.

Ninguém tem culpa por amar desse tanto

Ninguém tem culpa por amar desse tanto

Viver é resistência. Quando ele se foi, eu já era um sujeito adulto. Restou claro para mim que ele decidiu desviver à revelia. Foi fraquejando. Foi definhando. Foi se imiscuindo em definhar. Foi amiudando os músculos e apagando as faíscas das sinapses, até perder a conexão com os instantes e lhe faltar voz suficiente para solicitar o obséquio de sucumbir em domicílio, no quarto de sempre, no quieto de antes, quando ainda era vivaz.