Crônica

Humano, ridículo e limitado

Humano, ridículo e limitado

Eu era um idiota. No duro. Não usava nem perto dos tais 10% da minha cabeça animal, como cantava Raul Seixas. Nas décadas de 1970 e de 1980, poucos sabiam o que significava a palavra bullying. Ninguém usava esse termo no Brasil. Aliás, estudar inglês era um verdadeiro pé no saco. Bullying era um vernáculo desconhecido, ainda mais quando se vivia no interior do país, uma região culturalmente atrasada, cuja economia era eminentemente agropastoril.

Como é que vou dizer para a minha mãe que eu a amo?

Como é que vou dizer para a minha mãe que eu a amo?

O centro da cidade sempre reservava surpresas aos transeuntes. Um cara vendendo um rim. Um renal crônico a mendigar no semáforo. Um viciado a pedir um fósforo. Rastros de bosta humana no passeio público. Seres humanos particulares. Um casal de caramelos engatado pelas genitálias. Um pastor com os sovacos suados. Um cossaco a praticar malabares. Lugares inusitados que serviam iguarias incríveis, como era o caso da Lanchonete da Tia Nair.

Olha a ideia velha!

Olha a ideia velha!

Não sei se na sua cidade ou mesmo no seu bairro passa todos os dias uma Kombi que compra ferro velho. Na minha rua passa, todo santo dia, mesmo nos fins de semana. E não passa só uma vez, passa umas quatro vezes com a sua gravação “Compro ferro velho, ar-condicionado velho, geladeira velha, máquina de lavar velha…”.

Direto da linha vermelha

Direto da linha vermelha

Alô, ouvintes, estamos aqui, ao vivo com o secretário de segurança. Como o senhor está, Secretário? — Até agora, tudo bem. — Até agora? — É… Porque nesse momento eu estou aqui na Linha Vermelha. Será que você pode falar mais alto, por favor. — Claro, vamos tentar melhorar a qualidade da ligação… — Não, a ligação está boa, mas é que está acontecendo um tiroteio aqui e o barulho dos tiros é muito alto! — Meu Deus! Que situação! O que o senhor tem a dizer para essas pessoas que estão sob fogo cruzado na Linha Vermelha…

Dia 8 de janeiro de 2023: o seu ódio não será a minha herança Foto / Casuli

Dia 8 de janeiro de 2023: o seu ódio não será a minha herança

O principal acontecimento de 2023 tinha sido a vitória da democracia brasileira. Fazia um ano desde que “patriotas” movidos por sonhos medievais invadiram, depredaram, pilharam e até defecaram nos prédios dos três poderes em Brasília. Soube-se recentemente pela imprensa que, nos meandros dos conturbados devaneios coletivos, planejava-se a tomada do poder político central à força, além da detenção e do enforcamento em praça pública dum ministro da suprema corte. Coisas de Idade Média. De doidivanas. De parvoíce. De falta de caráter.