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Quatro romances para pensar o Brasil moderno

Quatro romances para pensar o Brasil moderno

Escrever ficção ou poesia no Brasil sempre teve o caráter de uma “literatura de dois gumes”. O escritor se vê diante do fardo de enfrentar, ao mesmo tempo, o fato estético e o fato histórico, conforme apontou Antonio Candido. Algo diferente de outros lugares do mundo. Ninguém pensaria em ler Flaubert para explicar a França ou Goethe para entender o destino da Alemanha. Mas, por aqui e na América Latina, o artista é chamado a encarar, constantemente, a vida concreta e a “estilizar” a realidade em suas obras.

Grande Sertão: Veredas, o livro que descortinou a alma humana e o Brasil profundo

Grande Sertão: Veredas, o livro que descortinou a alma humana e o Brasil profundo

Em maio de 1956, João Guimarães Rosa traz à luz “Grande Sertão: Veredas”, épico célebre pelo texto todo pontuado por uma versão muito particular da língua portuguesa, em que a fala do caboclo do interior do Brasil torna-se um dos personagens. Ao abordar a vida dos jagunços sob o ponto de vista metafísico-teológico, Rosa dá à humanidade conhecer a magnitude de seu gênio, perdido nas brumas do tempo do país sem memória que tanto amava.

Oswaldo Cruz: o médico que combateu a febre amarela, a peste bubônica, a varíola e a ignorância

Oswaldo Cruz: o médico que combateu a febre amarela, a peste bubônica, a varíola e a ignorância

Moacyr Scliar (1937-2011) abordou o cientista e médico Oswaldo Cruz de duas formas — como biógrafo, no livro “Oswaldo Cruz — Entre Micróbios e Barricadas” (Relume Dumará, 101 páginas), e como escritor, no romance “Sonhos Tropicais” (Companhia das Letras, 212 páginas). O estudo da vida do cientista paulista, especializado no Instituto Pasteur, na França, não é alentado. Mesmo assim, apresenta muito bem um personagem relevante para o Brasil — “original e extraordinário” — que viveu entre dois séculos, o 19 e o 20, entre 1872 e 1917. Viveu apenas 44 anos.

Literatura argentina: para além de Borges e Cortázar

Literatura argentina: para além de Borges e Cortázar

Na República Mundial das Letras, a Argentina tem um representante peso-pesado que inundou o mercado global a partir dos anos 1960. O nome virou uma marca, Jorge Luis Borges, dito o mais universal dos autores argentinos. Para Beatriz Sarlo, no entanto, o autor de “Ficções” e “O Aleph” só poderia ter surgido em seu país, por mais que falasse de coisas distantes no tempo e no espaço. O fato é que, ao mesmo tempo, a borgesmania dá orgulho e ofusca o restante da produção literária de uma cultura riquíssima.

Esboço de um mapa mundi da literatura

Esboço de um mapa mundi da literatura

É preciso conhecer os aspectos históricos e culturais da China rural para ler a obra de Mo Yan? Dá para entender o romance “Desonra”, de J.M. Coetzee, sem levar em conta que foi escrito no contexto do pós-Apartheid e da Comissão da Verdade e da Reconciliação, na África do Sul? Ou que Michel Houellebecq criou “Serotonina” às vésperas das grandes manifestações dos “coletes-amarelos” e anteviu o caos das ruas de Paris em 2019?