Livros

Os herdeiros selvagens de Ibsen

Os herdeiros selvagens de Ibsen

Nas voltas que o mundo dá, saíram recentemente no Brasil dois romances que beberam na fonte do dramaturgo norueguês Henrik Ibsen (1828-1906), um dos melhores escritores do mundo no século 19. O autor desenvolveu sua carreira às margens dos grandes centros europeus e fez a transição do clássico realismo para o modernismo, em peças como “O Pato Selvagem” (1884) — um drama até hoje inclassificável.

Peixe Estranho, novo romance de Leonardo Brasiliense, é monótono e sem consequência

Peixe Estranho, novo romance de Leonardo Brasiliense, é monótono e sem consequência

Frustrado com a mulheres, o protagonista do novo livro do autor gaúcho decide comprar uma boneca de silicone, com que inicia uma relação de confidência. O resgate de lembranças de dois casamentos falidos e de uma infância conturbada revela um homem inseguro e carente de afeto, refém de uma solidão em meio ao mundo no qual a tecnologia derrubou todas as barreiras de comunicação. Porém, ao invés de se aprofundar nos temas sugeridos, a trama se atém a episódios aleatórios e assuntos abandonados pelo caminho, desperdiçando a oportunidade de ser instigante pela estranheza ou pelo humor.

O Drible, o livro quase perfeito de Sérgio Rodrigues

O Drible, o livro quase perfeito de Sérgio Rodrigues

Em “O Drible” Sérgio Rodrigues sobressai numa qualidade entre escritores brasileiros de sua geração: a imagística. Escrever por imagens — boas imagens — costuma ser uma virtude dos melhores escritores. A prosa é um gênero literário diferente da poesia por uma questão de grau. Autores como Guimarães Rosa e António Lobo Antunes, por exemplo, esgarçam essa fronteira. E a prosa também é diferente da linguagem comum ou neutra, da ciência, porque se utiliza amplamente (ou devia utilizar) de figuras de linguagem, como a própria metáfora, a metagoge, a metonímia. É o que proporciona a linguagem literária, “opaca”, que permite interpretação, conferindo valores estéticos ao trabalho do escritor.

Michel Houellebecq contra a humanidade Foto / László Mráz

Michel Houellebecq contra a humanidade

Podemos ser qualificados de “humanos” graças à combinação de dor com aquela outra espécie de padecimento exclusivo de nossa espécie: a paixão. O homem é uma criatura essencialmente trágica, e seus dramas constituem desde sempre o alimento da arte. O motivo para o emplasto Brás Cubas é a própria condição do personagem machadiano, e mesmo um certo Fréderíc Hubczejak — personagem secundário mas decisivo do livro analisado — só existe para refletir sobre a humanidade porque é demasiadamente humano.

História da Literatura Ocidental, de Otto Maria Carpeaux, um dos maiores testemunhos do humanismo no século 20

História da Literatura Ocidental, de Otto Maria Carpeaux, um dos maiores testemunhos do humanismo no século 20

“Livro” ou “biblioteca” é uma permuta aceitável para designar essa obra, na qual estão encerrados os mais importantes e até muitíssimos livros desimportantes de uma área inteira do conhecimento humano: a literatura. Longe de ser o único assunto que o erudito discutia com propriedade, já é o bastante para causar na gente verdadeiro espanto. A começar pelo tamanho invulgar. O percurso coberto se abisma de Homero, no século oitavo antes de Cristo, até Eugen Gomringer, poeta teuto-boliviano concretista da década de 1950. Sem nenhum favor ou chauvinismo, “História da Literatura Ocidental” é, com certeza, o mais completo painel da arte verbal de todos os tempos, em qualquer língua.