Não precisa haver rixas entre as artes. Quem ama livros pode muito bem amar filmes. É natural que os amantes da literatura achem que o cinema é uma expressão superficial da vida. Natural, mas um engano. Há muitas produções cinematográficas que ultrapassam as imagens e tomam significados mais profundos e questionadores sobre o mundo.
“Estrada sem Lei”, ou “The Highwaymen” de John Lee Hancock, explora corajosamente o que já se conhece sobre duas figuras criminosas (e, portanto, sempre menores) da história moderna dos Estados Unidos, aproveitando para desmistificar velhos mexericos sobre elas e exaltar quem de fato merece.
Décimo filme de Wes Anderson ao longo de 25 anos de carreira, “A Crônica Francesa” é uma ode ao jornalismo e uma visão romantizada do mundo, apesar de suas agruras e sofrimentos. É um olhar otimista sobre o negativo ou pessimista sobre o belo. Difícil de ser explicado, a antologia narra quatro histórias, além da principal, que envolve o espectador, provoca sorrisos e muitas reflexões.
Ao narrar a história de Léon, assassino profissional que se torna o único esteio para Mathilda, filha de traficantes executados pela polícia, “O Profissional”, do diretor francês Luc Besson, acessara um terreno em que talvez jamais imaginasse entrar, mas escapa com vida do paredão do politicamente correto e ainda assombra os falsos puritanos 27 anos depois.
Diretor zeloso que sempre foi, o escocês David Mackenzie confirma seu preciosismo, sobretudo ao tratar de assunto tão delicado e que lhe toca tão fundo, como a luta da Escócia por se livrar do jugo da Inglaterra no século 14. “Legítimo Rei” é uma mostra de o cinema pode mesmo ser muito bom em investigar eventos tomados pelas brumas densas do tempo e conferir-lhes novas cores e a capacidade de despertar o interesse de públicos até então inexplorados.
