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“Lost Girls: Os Crimes de Long Island” poderia resvalar para o indigesto dramalhão moralista — muitas vezes se tem a sensação de que Liz Garbus vai mesmo se permitir atolar nesse lodaçal, e causa espécie sua capacidade de jogar com as expectativas do público —, mormente com a entrada em cena de Reed Birney como Peter Hackett, o médico que dá todos as pistas de ser o psicopata por trás dos crimes, mas nunca é sequer molestado. Todavia, a diretora é hábil em se concentrar no subtexto emocional de seu trabalho, que alcança o zênite com as informações dispostas numa tela negra, nos segundos finais do longa.

“Pura Paixão” (2020) é a história de um romance que não resiste ao crepúsculo, tamanho o desencontro de que se compõe. A diretora Danielle Arbid tenta traduzir em imagens o caótico fluxo de consciência de dois personagens herméticos a seu modo muito próprio, um dando azo a demandas e objetivos diametralmente contrários aos da outra.

Oriol Paulo é um diretor espanhol com muitos títulos no catálogo da Netflix e, se você for pesquisá-lo no IMDb ou Rotten Tomatoes, vai perceber a recepção fenomenal que ele tem da crítica. Com notas acima da média, seus roteiros sempre se apresentam como jogos de mente, que brincam com as percepções dos espectadores, pregam peças e nos fazem duvidar do que nossos olhos estão vendo. Afinal, o que é ou não verdade? Em “As Linhas Tortas de Deus”, sua premissa se mantém e ele oferece uma obra ainda mais amadurecida e bem dirigida, que vai te deixar angustiado do início ao fim.

Um agente do FBI bronzeado, solar, feliz no casamento e cheio das falsas certezas das pessoas sem grandes agonias, entra em rota de violenta colisão com um psicopata frio, hábil em calcular palavras e mascarar emoções, irremediavelmente só em sua megalomania. O jogo de gato e rato proposto por Brett Ratner em “Dragão Vermelho” perpassa justamente as personalidades opostas desses dois homens, ressaltando o que um detesta no outro, mas fazendo caso de lhes botar na boca o texto contundente que esgrimem ao longo de mais de duas horas.

Alejandro González Iñárritu parece continuar firme em seu propósito de não mais tolerar as delicadezas cínicas que sustentam o mundo. Em “Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades”, Iñárritu personifica muitas das neuroses não apenas do gênero humano, mas das Américas, da história do continente americano, da glória e do desajuste de ser artista numa era de violências perpetradas das mais diversas maneiras, das mensagens que condenam, das palavras que matam.