Crônicas

Todo filósofo é ignorante

Todo filósofo é ignorante

O homem mais ilustrado e brilhante do seu tempo, Sócrates, foi inimigo figadal dos filósofos sofistas. Na realidade, ele sequer os considerava filósofos. Na opinião de Sócrates, eles eram tão somente professores de retórica. E, ainda assim, não estavam à altura de contribuir para o futuro de Atenas. Os séculos provaram que nenhum sofista chegou sequer perto de ameaçar a fama de um dos fundadores da filosofia ocidental.

A humanidade não está piorando, só está mais conectada com o mal

A humanidade não está piorando, só está mais conectada com o mal

Não sou um indivíduo dos mais otimistas. Na verdade, tanto pé atrás, tantas reservas em relação ao papel do ser humano na Terra incomodam muito mais a mim do que a terceiros. Para começo de conversa, não me perco em lamúrias e nostalgia, ao sustentar a tese de que a humanidade está piorando a cada dia. Ao contrário, tenho certeza de que já melhoramos — e muito — com exceção, talvez, dos cuidados com a sustentabilidade do meio ambiente

Ensaio sobre a saliva

Ensaio sobre a saliva

Namorar era bacana, um trocadilho infame, um adjetivo que ninguém mais usa hoje em dia. Hoje em dia não deixa de ser uma espécie de redundância, eu sei, ora, que se dane. Prefiro ser redundante do que ser pedante. Naquela altura da vida, eu já estava me entendendo muito bem com os vírus e com as bactérias. Éramos brothers. Tinha perdido aquele medo besta de morrer. Vieram as novas paixões, outras namoradas estranhas e aquele gosto diferente em cada boca, aquele gasto descomunal de tempo e de saliva

A gente vira pedra depois que morre

A gente vira pedra depois que morre

Diz-se que o coração é o órgão vital responsável pelos sentimentos. Ora, um coração não sente bulhufas. Ele bombeia, cadente, escravizado pela esperança, vinte e quatro horas por dia, todo santo dia, como um soldado numa guerra já perdida, tomado por diligência e fé, até mesmo, um certo grau de desespero, frente àquelas situações irreversíveis, como a falência múltipla dos órgãos, quando nada mais dá certo, quando nada mais funciona a contento, quando nada resta a fazer senão parar de bater dentro de um corpo inexoravelmente falido.

Velha demais para dar ouvidos aos idiotas

Velha demais para dar ouvidos aos idiotas

Não estou gostando nada nada nada dessa história de mamãe voltar a fazer aulas de dança do ventre. Eu sei que isso não é da minha conta, que não posso mandar na vida dela como ela já mandou na minha, um dia, quando fui criança. Se quiser dançar, dance, mamãe. Mas, por favor, se não for pedir muito, ao menos tape o ventre com alguma peça avulsa do seu vestuário de bailarina porque, senão, quem vai dançar sou eu.