Crônicas

Tudo à vista

Tudo à vista

Temia prestações, crediários. Tudo que comprava pagava à vista. A bem da verdade, não comprou muita coisa na vida. Não era movido a impulsos; pensava mil vezes e, quase sempre, desistia do negócio. Estavam casados há mais de três anos e não tinham, nem mesmo, uma mesa de jantar. O apartamento, que era grande, teria que ser mobiliado aos poucos, sem prestações pelo caminho.

Estamos por nossa conta e risco

Estamos por nossa conta e risco

Estamos por nossa conta e risco. Põe os teus discos para tocar. 33 rotações por minuto. Por favor, dá-me tua mão. Os objetos da sala estão a girar. E eu que julgava ser o sol. Deve ser por causa do merlot, do Rivotril ou da droga da labirintite.

Dicas sinceras para quem está surtando

Dicas sinceras para quem está surtando

Eu queria gostar de autoajuda. Sou do tipo que precisa de manual para tudo. Eu preciso de autoajuda porque eu me “auto atrapalho” facilmente. Mas não consigo ler livro de autoajuda porque são escritos por quem já passou por todos os perrengues e agora está no auge. Aí é fácil dar lição de vida. Ninguém escreve autoajuda enquanto está tropeçando, errando e atolado em dúvidas sobre o futuro

Andam sobrando demônios no coração das pessoas de bem

Andam sobrando demônios no coração das pessoas de bem

Tentar com mais de ternura dava um certo trabalho. Já tinha vomitado cinco vezes. Mais uma golfada e acabava por virar-se do avesso. O cheiro de gás entristecente que escapava dos foles, das conexões e das traqueias lhe embrulhava o estômago. Sentia na mente uma certa amargura e, na língua, o amargor de uma gosma esverdeada, mais conhecida entre os profissionais de moléstias extremadas como suco biliar.