Crônicas

Saí para catar coquinho e não sei se eu volto

Saí para catar coquinho e não sei se eu volto

O mundo dá voltas. Esse mundo dá voltas ao redor da minha cabeça. Não sou um astro. Não sou o sol. Não sou um rei. Sou só um homem arredio, um tanto sem sal, um tanto sem soul, salpicado de poeira cósmica, conforme um planeta desabitado, sem água, sem atmosfera respirável, sem microrganismos vivos, sem aliados, alinhado a outras séries de conluios interplanetários desprovidos de qualquer significado astrológico relevante.

Ser mãe é bater de frente com a culpa e precisar prosseguir. É dar à luz e também nascer no parto

Ser mãe é bater de frente com a culpa e precisar prosseguir. É dar à luz e também nascer no parto

Há os que tentam explicar essa mistura de leoa que protege a cria rangendo os dentes ao mesmo tempo que a acolhe em braços ternos. Há quem tente nominar esse sentimento que impressiona e intriga. Mas é tolice buscar explicação para a intensidade que sustenta o mais nobre dos amores. É inútil querer entender. Ser mãe apenas é… é peito que chora com o choro da prole, é sono que some com o filho na rua, é sorriso que se alarga com o primeiro passo, o primeiro dente, o primeiro emprego e todo o resto que virá.

Toca Raul, filho da pátria

Toca Raul, filho da pátria

Minto desde que nasci. Sou uma mentira inata, contudo, desprovida de pedigree. Meus pais esperavam que viesse uma menina. Então, eu vim. Um recém-nascido com cara de joelho. E chorei nos braços do obstetra bêbado, sentindo uma vontade danada de rir na cara de todo mundo. Jamais, na história da humanidade, criança alguma nascera sorrindo. Toda família tinha um ente desequilibrado. Eu era a pedra da vez. Pedro. Vocês podem me chamar de Pedro.

A vida é um filme em que o amor não morre no final

A vida é um filme em que o amor não morre no final

Aproveitou que a enfermeira de origem sudanesa tinha saído do quarto para descalçar os sapatinhos de camurça e começar os preparativos de se aninhar ao lado da companheira. A foto dependurada na parede mostrava o rosto de uma mulher caucasiana, jovial e de expressão serena, com o dedo indicador em riste, encostado na ponta do nariz, a solicitar silêncio no ambiente.