Crônicas

Quando toca “Wisky a Go Go”, do Roupa Nova, é hora de dar o fora da festa

Quando toca “Wisky a Go Go”, do Roupa Nova, é hora de dar o fora da festa

A pior de todas as festas, com certeza, é o baile de formatura. Costuma começar às onze — justamente no horário em que vou para cama dormir. O pior é que não tem hora para acabar. É ultrajante que os cerimoniais nos obriguem a vestir roupas que nem sempre gostamos. Tenho aversão a black-tie, por exemplo. Se um dia eu morrer, se me enterrarem vestido a rigor, podem acreditar, voltarei à noite para puxar os pés do indivíduo responsável por tamanha desfeita.

Tem mais miseráveis morando em mansões do que nas ruas

Tem mais miseráveis morando em mansões do que nas ruas

Notei que um sujeito maltrapilho zanzava entre os automóveis. Parecia mais fodido do que o normal. Cambaleava entre os veículos, fazendo caretas e esfregando o polegar contra o dedo indicador. O motorista do Porsche ao lado abaixou o vidro e, sem que eu lhe perguntasse — não gosto de caras exageradamente ricos — comentou que, se dependesse dele, metia logo uma bala na cabeça daquele verme. Com a recente restrição ao uso de neurônios, o governo federal não apenas tinha liberado o verbo como também o porte de armas pelos cidadãos de bem.

Princesa? Por favor, não

Princesa? Por favor, não

Sempre desconfiou do homem que chama sua mulher de princesa. Para ela, recorrer a um substantivo tão batido era pura incapacidade de encontrar atributos na parceira e revelava um certo desleixo e pouca importância com o relacionamento. Ela definitivamente não era uma princesa, não beijava e tampouco engolia sapos. Por isso, estranhou quando ele a chamou de princesa e ali, ela não tinha dúvidas, era o começo do fim.

Madame Bovary e as dívidas

Madame Bovary e as dívidas

Eu não gosto de dar palpites na vida dos outros. Mas eles insistem em pedir e confesso: o voyeurismo financeiro me atrai. E a literatura também. Daí que resolvi repartir com você algumas das histórias reais e suas analogias literárias. Madame Bovary dos Jardins não tinha amantes, mas tinha dívidas. Quando me escreveu estava numa tristeza comovente. O coração dilacerado porque sabia que o marido a traía.

No meu tempo era pior

No meu tempo era pior

No meu tempo era pior. Eu não sonhava em ficar rico. Agarrava-me às excentricidades dos projetos para quando eu crescesse: tornar-me um jogador de futebol, atirar-me de um precipício vestido com a capa do Batman, operar o prepúcio, destravar a glande, construir um disco voador, aprender a me tornar invisível. Então, jogava bola descalço na rua. Quebrava os dentes e os ossos. Tomava banhos de chuva.