Crônicas

Um exército de hipócritas

Um exército de hipócritas

A grande diferença, talvez, esteja no cinismo. Um racista, por cretino e odioso que seja, é sincero. Oprime sem fazer teatro (quando sim, trata-se apenas de não incorrer em crime e acabar atrás das grades). O mesmo acontece com todos os outros comportamentos xenófobos e covardes de maneira geral. O sentimento é límpido, expresso, nem que seja no gesto francamente. Já com aqueles que apontam o dedo dizendo “reaça!”, acontece justamente o oposto.

O melhor e o pior do Facebook. Ou a vida como ela não é

O melhor e o pior do Facebook. Ou a vida como ela não é

O almoço termina e é hora de dar um passeio. Fazer a digestão. Não na praça, não há mais praças. Ali mesmo, à mesa. É tempo de passear os olhos por sua “linha do tempo”. Cachorro perdido, gente desaparecida, cachoeira, pôr do sol, frase feita, cerveja na praia, piada velha, indireta para ex-namorado, fulana mudou foto do perfil, pose com celular no espelho, Clarice Lispector, Mussum, cachorro desaparecido, gente perdida, “diga não ao preconceito” aqui, “mais amor, por favor” ali, “todos contra a homofobia” acolá.

Meu namoro com Clarice Lispector

Conversava com Pedro, na ocasião, seu filho mais velho, na clínica aonde ambos fazíamos terapia, quando inesperadamente Clarice surgiu — transportada por um silêncio régio e chuva torrencial. Noite sem estrelas, olhar esgazeado, cabelos úmidos, ela entrou na sala trajando uma capa de chuva cinza e um imponente guarda-chuva. Imaginando tratar-se de miragem, balbuciei trêmula. “Clarice… eu… te adoro.” Clarice me observou sem pressa. A seguir passou delicadamente as costas da mão por meu rosto adolescente. Disse, então: “Lindaaa”. Eu sorri desajeitada, incrédula, mas consegui revelar: “Clarice, tenho um livro seu, que é minha leitura de cabeceira, aqui comigo. Você escreve algo pra mim?”.

Caim Entertainments presents: free violence

Caim Entertainments presents: free violence

Eu poderia simplesmente intitular esta crônica na nossa língua pátria, valendo-me dos vernáculos em português. “Caim Entretenimentos apresenta: Violência Gratuita”. Não. Os brasileiros — dos mais humildes assalariados até os ricaços viajantes metidos a sabichões bilíngues — flertam o tempo inteiro com o glamour do estrangeirismo, o que não deixa de disfarçar um bocado o complexo de vira-latas, de nação inferior e subdesenvolvida, no que tange a índices como PIB, IDH e a PQP.

Portal R7 é o novo parceiro da Revista Bula

Portal R7 é o novo parceiro da Revista Bula

A partir desta quarta-feira, a Revista Bula passa a fazer parte do Portal R7, o segundo maior portal de conteúdo do Brasil. Editorialmente, a proposta não muda, continuaremos com a total liberdade e o gosto pela polêmica que nos caracterizou nesses 10 anos de existência. Desde o dia 17 de março de 2003 foram mais de 50 milhões de acessos e 15 mil textos publicados — entre resenhas, listas, crônicas, ensaios, estudos críticos e entrevistas. Polêmicas, brigas, rompimentos, mas também muita satisfação, sobretudo pelo fato de que sobrevivemos 10 anos em uma área que projetos nascem e morrem com a mesma frequência com que respiramos.