Crônicas

Pensei que tinha voltado a chover, mas estava apenas chorando

Pensei que tinha voltado a chover, mas estava apenas chorando

Perguntei para o homem mais velho, que parecia ser o líder da trupe, aonde é que soltariam os peixes. Sem sequer olhar para mim — ele sabia que eu era um alienígena dentro daquele contexto rural — o camponês franziu a testa, sorriu e atirou a tarrafa sobre o cardume exausto. Enquanto arrastava a rede, ele comentou que aquele era um dia abençoado e de muita sorte para a comunidade ribeirinha. Finalmente, teriam o que comer nos próximos dias.

Mesmo errado, o coração tem sempre razão

Mesmo errado, o coração tem sempre razão

Eis uma carta que jamais chegará ao seu destinatário. Estás blindado contra tudo o que aparenta ser razoável. Não me orgulho em escrever-te estas linhas. A frieza e a falta de empatia parecem a tua marca registrada. Registre-se nos baixios da humanidade: apesar de tudo, é horrível odiar-te. Extrais de mim o pior de que um ser humano é capaz. Tudo em ti é cansaço.

Ota não merecia o tratamento que recebeu. E nós, que ficamos, não merecemos sua partida

Ota não merecia o tratamento que recebeu. E nós, que ficamos, não merecemos sua partida

Meu playground etário foi a década de 70, e nela, numa distraída sexta (lembro que saí da escola feliz pelo dia seguinte ser sábado e, principalmente, meu aniversário), topei numa banca, dei de cara e me apaixonei insanamente pela MAD, a ponto de começar a desviar dinheiro da (minha) merenda escolar pra manter aquele vício mensal. Além da devoção que passei a prestar aos fabulosos (míticos, pronto) artistas publicados pela revista, sempre fui fã do talento, da dedicação e da férrea teimosia de um certo Otacílio d’Assunção Barros, editor da versão brasileira e que esteve bravamente à frente da revista em todas as incontáveis enca(de)rnações editoriais por que ela passou.

A peste é o medo

A peste é o medo

Renasci numa noite de dor. Choviam canivetes, mas, quase ninguém se cortou. Ando muito em apuros, doutor. Os pensamentos em círculo. Não supunha que a carne do corpo também doía por consequência da saudade. Imbricada em tocar a vida em frente, como um vagão a descarrilar dos dedos de Deus, eu já não sei separar o que seja real do que seja imaginário.