Crônicas

Não aprendemos afinal onde fica Samarcanda

Não aprendemos afinal onde fica Samarcanda

Houve uma mulher em minha vida. Bem sei, houve mulheres na vida de todos os homens: nenhuma novidade aqui, nada de novo sob o sol. Mas somos capazes de reconhecer as implicações profundas desse fato? Quem, na correria da vida moderna — esse eterno clichê do qual sempre reclamamos —, pensa no que ganhou ou perdeu ao fim de uma história de amor? E pode ser até pior: muitas vezes não percebemos a possibilidade de um amor quando ela surge, como as pequenas epifanias do Caio Fernando Abreu, e a rechaçamos, tristemente a rechaçamos.

Conversa à toa sobre o começo, o meio e o fim do amor

Conversa à toa sobre o começo, o meio e o fim do amor

Sem aviso, o amor rompe a membrana tênue que separa as coisas elevadas, impossíveis, da vida corriqueira e seus acontecimentos rasteiros. Dá as caras à toa, sem mais, como alguém que vai ao mercado, o despertador que não toca, a moça que acorda com raiva, o pobre que acerta na loteria, o tombo da patinadora. Porque o amor pertence à insuspeitada categoria das coisas imprevisíveis. O amor vive no terreno do imponderável.

Músicas boas para se ouvir, quem sabe, no inferno

Músicas boas para se ouvir, quem sabe, no inferno

Agradeço sinceramente por todas as manifestações de ódio e juras de maldição postadas pelos leitores desta ilibada revista literária, sem as quais eu não seria requisitado pelos editores da mesma a redigir mais um de meus desedificantes textos sulfurosos. Enviei a minha carta anterior por pura diversão, provocação da grossa, escamoteação premeditada, pegadinha marota, armadilha pra se pegar ignaros, como faz um caçador doméstico ao armar uma ratoeira.

Viagem de um homem comum a um céu extraordinário

Viagem de um homem comum a um céu extraordinário

E como um dia há de ser com toda boa alma, hoje um homem subiu aos céus de manhãzinha e descobriu que o paraíso não é só um amontoado de anjos tomando sol num campo verde e infinito além das nuvens. Entorpecido pela surpresa, o homem se deu conta de que o céu é uma grande e abençoada cozinha. Ali, as crianças brincam com batatas espetadas por palitos de fósforo formando rebanhos em fazendas de sonho, debaixo de uma mesa onde as avós escolhem de grão em grão o arroz e o feijão das próximas refeições.