Crônicas

Quando não puder mais caminhar, ajoelhe. E tente outra vez

Quando não puder mais caminhar, ajoelhe. E tente outra vez

Tente outra vez. Mesmo que você tenha se perdido, e perdido as forças para seguir o seu caminho. Mesmo quando o ar já não entra nos pulmões, e na escuridão, seus olhos não consigam enxergar sequer um fio de luz. Tente outra vez. Quando as mãos começarem a sangrar, e os pés machucados, em carne viva, não aguentarem mais o calor da terra. Tente outra vez. Quando não resistir mais à dor de um ombro dilacerado, um coração estilhaçado, um corpo triturado. Tente outra vez. E se não suportar mais caminhar, ajoelhe. Engatinhe, rasteje. Mas não desista!

Velhas saudades têm sempre uma nova esperança

Velhas saudades têm sempre uma nova esperança

Um dia acontece. Você acorda, abre a janela e encontra um tempo feio como bronca de filho em mãe, triste, dia de ser só. O céu cor de chumbo é um longo e imenso desamparo, a rua está úmida, mais vazia que a primeira tarde depois do fim do mundo, e você tem um desejo dolorido de voltar à cama, ao convívio das cobertas, ao escuro silencioso da madrugada, ao útero materno.

O amor segundo os cavalos

O amor segundo os cavalos

Aconteceu de manhã, depois de uma noite inteira de chuva, quando toda gente botava a cara de novo na rua para ganhar a vida. Em algum canto escondido do planeta, um homem poderoso e aborrecido com o sinal ruim de sua TV a cabo decidiu dar cabo de tudo: entrou no quartel general a que só ele e outra meia dúzia de deuses tinham acesso e apertou o botão da bomba mais avassaladora já construída. Em questão de segundos, um vírus criado em laboratório a partir do DNA dos quadrúpedes ganhou a atmosfera e envolveu toda a extensão do planeta. Nós, os tão especiais seres humanos, caímos doentes, arrebatados pela névoa sinistra, mergulhados em profundo sono de morte.

É agora que o jogo recomeça. E eu torço é por nós

É agora que o jogo recomeça. E eu torço é por nós

Pronto. Acabou. Lá se foram as eleições que tanto chacoalharam os nossos ânimos. Terminou o embate, passou a pendenga. Já podemos guardar as armas, enrolar as bandeiras, recolher as unhas. Respirar fundo e seguir em frente. Venceu a vontade da maioria. Esta foi, sem dúvida, das eleições presidenciais mais disputadas da história. E para além de qualquer preferência, a escolha de sair e celebrar ou sentar e reclamar é nossa. Eu acho, honestamente, que essa é a escolha mais importante que temos a fazer agora.

Quando eu crescer vou virar criança

Quando eu crescer vou virar criança

Juro de pé junto, viu. Cruzo os dedos. A praga já está rogada por mim mesma, diante do espelho grande do meu quarto que oscila entre alheio-e-alienado. Envelheça quem quiser, a cada dia que passa. Eu não. Faço caras e bocas e me posiciono ereta desafiando a dona cronologia. Miro com um estilingue bem no meio dos olhos do tempo e pimba! Foi-se a desaceleração da vida, a palidez e tremulações, comuns ao avançar da idade.