Guia rápido para tomar o poder e manter as amizades
“Perdi um amigo”, ele disse. Não que o dito cujo tivesse se lascado e morrido. Não era nada isso. Não que ele estivesse nalgum paradeiro desconhecido, errando de maneira insana, a esmo, sem eira nem beira. Também não. Ele apenas supunha que alguém descartaria a sua amizade. Era isso. Ele não quis desdenhar da situação, dizer que não estava nem aí pra paçoca. Pois pertencia àquele tipo de gente cujos amigos podiam ser contados nos dedos que ainda assim sobrariam falanges. Daí o desassossego sincero, condoído, que sentia por causa do entrevero. “Nos dias de hoje, perder um amigo não é brinquedo, não é coisa que se comemore”— concluiu, mais frustrado que uma freira morta ao bater na porta do céu e descobrir que, na verdade, ele nunca existira.