Crônicas

Não dá pra construir um Brasil melhor com ovos de chocolate que não contenham glúten

Não dá pra construir um Brasil melhor com ovos de chocolate que não contenham glúten

Minha falta de fé anda irritante, eu reconheço. Tive um desentendimento com a minha mãe — e sei que isso é motivo mais que suficiente para que as minhas mãos sequem — por conta de um benzedor de cobras. Cria ou não cria naquilo? Não cri, pra variar. Enquanto eu ria, a gentil senhora fechou o cenho para me convencer que o sujeito convencia sim as serpentes a se escafederem do perímetro de uma gleba inteira, valendo-se apenas do instituto dos espasmos medonhos, trejeitos inimitáveis e muita, muita oração.

Estar solteira não é sinônimo de abandono, mas sim, de escolha

Estar solteira não é sinônimo de abandono, mas sim, de escolha

Por que as pessoas têm a mania de achar que felicidade só pode existir numa vida atrelada à outro coração? Ora, nascemos sós. Nada mais natural que vivamos e sejamos felizes em nossa própria companhia, que a alegria dependa exclusivamente de nós. Delegar essa função e responsabilidade é de uma crueldade absurda, é se eximir das consequências de todas as escolhas feitas, alugar a própria vida à um inquilino — e torcer para que ele cuide be

De gatos, gatunos e víboras convertidas: o zoo(i)lógico brasileiro está cheio…

De gatos, gatunos e víboras convertidas: o zoo(i)lógico brasileiro está cheio…

Um clarão na página que acenda sua imaginação — eis o que pretendo continuar fazendo. Se você já pulou a barreira do título, entre mil manchetes mais picantes do seu dia-a-dia na internet, seja bem-vindo ao sanatório, desculpe, ao zoológico brasileiro da política. Saiba que neste exato instante que me lês, alguém presta consultoria que leva à pilhagem contra o teu, o meu, o nosso suado dinheiro e contra a consciência do brasileiro. Alguém se candidata a manter as apostas altas no jogo-do-bicho brasileiro: o que dá na cabeça, não importa desde que o ganho seja alto.

A última crônica de Drummond

A última crônica de Drummond

Creio que ele pode gabar-se de possuir um título não disputado por ninguém: o de mais velho cronista brasileiro. Assistiu, sentado e escrevendo, ao desfile de 11 presidentes da República, mais ou menos eleitos (sendo um bisado), sem contar as altas patentes militares que se atribuíram esse título. Viu de longe, mas de coração arfante, a Segunda Guerra Mundial, acompanhou a industrialização do Brasil, os movimentos populares frustrados mas renascidos, os ismos de vanguarda que ambicionavam reformular para sempre o conceito universal de poesia; anotou as catástrofes, a Lua visitada, as mulheres lutando a braço para serem entendidas pelos homens; as pequenas alegrias do cotidiano, abertas a qualquer um, que são certamente as melhores.

Desabafo de um coração em estado de graça

Desabafo de um coração em estado de graça

Os velhos esquecidos nas casas de repouso por descuido dos seus. As crianças descobrindo a beleza. Os desprendidos tocando a vida e deixando a dos outros em paz. Aqueles que olham com afeto velhas fotografias. As pessoas que sorriem à toa tantas vezes, todo dia, lembrando a farra dos cachorros e o humor dos gatos. As mães orgulhosas dos filhos. Os pais esforçados em sua porção de agrados. As almas solitárias sentindo alegria por entender, enfim, que o amor não é o contrário da solidão, mas é a sua solidão dividida com o outro.