Crônicas

Antes só do que amado pela metade. Sozinhos somos inteiros

Antes só do que amado pela metade. Sozinhos somos inteiros

Você não queria, mas disse adeus. Não havia nada mais que fizesse aquele amor ficar. Restaram somente você e os sonhos que um dia foram de duas pessoas. No vazio do quarto silencioso, sua vontade de se levantar ficava escondida no canto mais frio debaixo da cama. Estava tudo fora do lugar. Móveis, objetos e pensamentos se perderam na bagunça da despedida, na partilha para decidir quem fica com o quê. Murcharam-se as flores do canteiro da janela e você se esqueceu por que precisava sair de casa para viver.

Viva de acordo com as suas escolhas e não com as dos outros

Viva de acordo com as suas escolhas e não com as dos outros

Era uma vez uma menina que tinha tudo para ser feliz. E ela foi. Até que um dia percebeu que aquela felicidade toda não a pertencia, que era o contentamento de outras pessoas projetado nela, assim como as expectativas e os desejos alheios que nela refletiam, mas que não brotavam do seu interior. Então, numa noite de inverno ela partiu com uma mala e poucos pertences. Levava consigo o que tinha de mais valioso: o seu coração, uns trocados de paz e um sonho de liberdade. Arrastou a bagagem junto com a responsabilidade pela desventura que causaria aos seus dominadores, e ao mesmo tempo, com a leveza de quem, por fim, encontrava o seu próprio caminho.

Complicar a vida é a arte mais fácil de todas

Complicar a vida é a arte mais fácil de todas

Seis da tarde. Na Hora do Ângelus, o trânsito no bairro nobre é um inferno. Pais e mães entopem as ruas, estacionados em filas duplas, à espera de seus filhos nas portas de escola. Executivos aceleram carrões rumo ao bar vaidoso para a happy hour onde encontrarão outros executivos que ali também chegaram sozinhos, pilotando cada um a sua máquina. Manadas de ônibus coletivos levando e trazendo trabalhadores cansados, vendedores de doces, desempregados famintos, estudantes otimistas e almas entregues avançam nervosos sobre os motoqueiros que costuram o espaço entre os carros. O sol se foi mas o asfalto queima, os nervos fervem.

Estar rodeado por pessoas erradas é a coisa mais solitária do mundo

Estar rodeado por pessoas erradas é a coisa mais solitária do mundo

Sozinhos conseguimos enxergar as nossas debilidades, nossos limites e loucuras. Em unidade podemos, sim, ser felizes, capazes de amar. Quem disse que não? Solidão não é sinônimo de infelicidade, de amargura, de escassez de amor. O solitário é aquele que se conhece tão bem ao ponto de preferir a própria companhia antes de qualquer outra. Para conceber o mundo lá fora é preciso entender primeiro aqui dentro. A gente se conhece no exílio para se reconhecer diante dos outros. Somos uma unidade e nos completamos assim.

Vem pra rua! Mas vê se não esquece a lição de casa, tá?

Vem pra rua! Mas vê se não esquece a lição de casa, tá?

Há muito tempo, num país bem longe daqui, o povo um dia decidiu ir às ruas e fazer a revolução. Basta! Gritavam milhões de pessoas contra o governo corrupto, a roubalheira, os desmandos no poder, os maus políticos e outras mazelas. O mundo estava no início de uma nova era. Depois de séculos de ignorância, medo e dominação, os pagadores de impostos finalmente se deram conta do óbvio: eram eles os maiores culpados da existência de maus políticos no poder. Sim, eles. Em carne, osso e ignorância, eram eles os responsáveis pela permanência dos vampiros nos cargos públicos. Passava da hora de mudar tudo isso. Era tempo de empreender uma poderosa mobilização popular!