Crônicas

Canhestros cantares para Ezra Pound

Canhestros cantares para Ezra Pound

Ergue-se dos escombros o castelo dos escândalos. Ergue-se com todos os mortos, os duques, os barões, os vassalos, os anões. E as armas, os brasões, os galos da aurora, os cães, os vilões da história. Aprumam-se os galgos soberbos, e os cavalos de Tróia; abertas as portas e as coxas da fortaleza a uma nova temporada de caça à raposa, aos patos selvagens de Ibsen, aos pombos-correios traídos, de conúbios proibidos.

A última torrada não quebrou

A última torrada não quebrou

O suicida estava sentado em frente à televisão. Era domingo e ele não tinha TV a cabo, o que o deixava deprimido. Ainda assim, não desligava o aparelho. Também não abaixava o volume. Sentia uma estranha atração por aquele sofrimento e autopiedade, o que aumentava sua melancolia. Talvez por isso mesmo fosse um suicida. Na mesinha à sua frente, uma xícara de café com leite em pó desnatado e um pacote de torradas de pão integral — precisava cuidar de seu colesterol.

O estresse ainda vai acabar te matando

O estresse ainda vai acabar te matando

Não é a banha de porco o que mais mata. Nem a gordura trans. Nem o trânsito. Nem os trens desgovernados. Nem o governo Bolsonaro. Nem a fome. Nem a falta de chuva. Nem a chave-de-perna. Nem as guerras. Nem as balas perdidas. Nem a caxumba quando desce para as bolas. Nem os pianos que se atiram dos prédios. Nem o vício.

A alienação é a chave da felicidade Dreamstime

A alienação é a chave da felicidade

Acho o mundo uma bela porcaria. Não me refiro à chuva, aos rios, aos cânions e aos passarinhos. Falo de gente. Não há como negar, contudo, que a vida no planeta se torna mais suave, quando temos o privilégio de conviver e de aprender coisas boas com pessoas que têm a leveza, a elegância e a generosidade que tinha, por exemplo, a minha saudosa tia professora