Crônicas

Como interpretar sonhos sem cair no ridículo

Como interpretar sonhos sem cair no ridículo

Enquanto eu dormia, minh’alma saiu pra dar um rolezinho e nunca mais voltou. Papai não gostou nada da brincadeira. Sou espirituoso. Ele é espiritualista. Às vezes me chama de espírito-de-porco. Ele cria e crê piamente que as almas dão sim os seus passeios enquanto estamos dormindo. Ninguém enxerga, mas lá estão elas, a rosetar pelo limbo. Por que motivo elas não permanecem ali, nem eu, nem ele saberíamos dizer. Eu, se fosse uma alma com hábitos noturnos, pessoalmente, ainda que pequena, ainda que valesse a pena, não voltaria para o meu corpo nem às custas de um despertador gritando na escrivaninha.

Dois homens se casam. Um deles traja vestido branco… O que a minha opinião sobre isso revela sobre mim?

A célebre frase “é apenas a minha opinião” pode estar envolta pelo manto da liberdade de expressão, mas a coberta é curta e deixa os pés de fora. Antes de tudo, é fundamental que se busque enxergar o outro como irmão, partindo-se de pressupostos minimamente éticos. Usar esse manto para justificar qualquer forma de violência, calúnia, obscenidade ou subversão evidentemente não encontra substrato ético ou democrático.

Toda vez que deixamos de sonhar é como se deixássemos de existir

Toda vez que deixamos de sonhar é como se deixássemos de existir

Algumas pessoas afirmam que amor não passa, nunca acaba. E, se acontecer de o ser amado partir, quem fica, por pensar assim, passa a acreditar que aquele amor não era de verdade. Acontece que não existe verdade absoluta. O que existe é o que cada um sente, e a experiência de vida de cada um. Há aqueles que sentem amor quantas vezes a felicidade bater à sua porta. A paixão, que para uns é uma emoção passageira, para outros é sentimento sincero e profundo pelo tempo que durar.

Eu sou feito de música

Eu sou feito de música

Eu sou feito de música. Mesmo quando estou dormindo, eu sou feito de música. Certa noite, sonhei que uma clave de sol perseguia-me pela pauta de uma partitura escura. A história toda foi uma espécie de ópera, um misto de drama e riso. Pode não parecer, mas o som é feito de luz, principalmente quando eu me sinto mais solitário, pra baixo, semínimo, breve, grave, pior que um violoncelo quando rompe uma das cordas. Não me recordo quando foi que rompi com a lira. Meus pensamentos andam pragmáticos demais, pesados demais, dignos da poesia concreta.