Crônicas

A difícil, dolorosa e fantástica arte de morar sozinho

A difícil, dolorosa e fantástica arte de morar sozinho

No início, você descobre a parte boa de não ter que dividir o mesmo teto com alguém. Anda pelado à vontade pela casa, deixa a cama desarrumada e acorda a hora que quiser. Descobre como é bom não ter ninguém te amolando porque você deixou a toalha molhada na cama, porque só comeu fast-food ou tomou muita cerveja. Acontece que sempre chega aquele momento em você se perde dentro do seu próprio apartamento.

Amor: serviço temporariamente indisponível. Por favor, volte mais tarde

Amor: serviço temporariamente indisponível. Por favor, volte mais tarde

Sem disponibilidade não dá. Não dá para o gasto, aliás, não dá nem para começar. Quando não estamos disponíveis não tem conselho no mundo, nem empurrão de melhor amigo, que mude os nossos ânimos. Não adianta forçar para que dê trégua, para que dê samba, para que o romance engrene, para que o querer seja honesto. Ou estamos dispostos, ou não. Simples assim. E muitas vezes não estamos a fim mesmo. Por preguiça de começar tudo de novo, por cansaço, ou porque o coração deixou de soltar faísca. Como diz o velho e sábio ditado: não se mexe em time que está ganhando. E você está em vantagem, assim, quieta no seu canto, sem dar bola para ninguém.

Saudade não é falta. Saudade é presença imortalizada dentro da gente

Saudade não é falta. Saudade é presença imortalizada dentro da gente

Tem dias que acordamos vazios. Na vida que segue com tantos compromissos e trabalho, a falta de algum lugar ou de alguém nos acompanha. É como o céu nublado onde não há sol. Nessas horas, resta-nos o silêncio frio e o desalento cinza, como se nada mais nos preenchesse além da melancolia que existe — e resiste — dentro da gente. É que tem dias que surge um buraco enorme aqui dentro. É a dor pelo que já foi e não é mais, e a ausência que se repete em sonhos enquanto dormimos. Como dói a solidão de um velho homem ao relembrar suas histórias.