Crônicas

Contos eróticos dos amantes patéticos

Contos eróticos dos amantes patéticos

A primeira providência do pastor ao entrar numa suíte de motel era pigarrear, tomar nas mãos o controle remoto e conferir os canais do circuito interno de TV. Perdiam-se preciosos minutos ao checar a variedade de filmes eróticos que serviriam, contudo, para inspiração durante o período refratário entre um orgasmo e outro.

Deus e os ovos no porta-malas

Deus e os ovos no porta-malas

Caiu num deslumbre endiabrado. Acabou o tempo para a escola e a família. Passava o dia na internet, alimentando comunidades, atualizando o blog, combinando com a galera sobre a balada que empreenderiam à noite. Duas coisas a tiravam do computador: baladas e compras. Adquiria os modelitos de grife, cada vez mais arrasantes, tanto pelo preço, quanto pela extravagância. Eram, como se diz, roupas de andar pelado. 

Seríamos leões para os safáris de Deus?

Seríamos leões para os safáris de Deus?

Há pessoas que têm a comodidade de tomar pé de fatos relevantes, de adquirir certas sabedorias, por meio de revelações. Há revelações para todos os tipos e gostos. Há revelações suaves e melífluas e revelações toscas e rudes. Eu inclusive sou daqueles acometidos por revelações eventuais. Penso que as minhas são do gênero rude pós-apocalíptico. Em estado de sonolência tumultuada foi-me dado conhecer, por exemplo, o lado mais sombrio e desamoroso de Deus em relação às pobres almas, quando desprovidas de seus corpos e saem por aí em busca do amparo divino.

Eu, um grandessíssimo idiota

Eu, um grandessíssimo idiota

Há pouquíssimas vantagens em envelhecer. Dá para contá-las nos dedos, sem se desesperar. Não falo isso de cátedra, pois, afinal de contas, ainda não cheguei ao ápice da minha decadência físico-mental, enquanto criatura animal viva. Tenho só 56. Se não me atropela um trem, se não me esmaga um piano que se atira de um prédio, pode ser que atinja esse triste e indelével patamar evolutivo que outra coisa não é senão uma deslavada involução do corpo e da mente.

Ouvidos de ouvir

Ouvidos de ouvir

Há quem ouça a verdade ser dita pelas bocas das cacimbas, pelos ventos nas folhas de relva, pelos voos claudicantes dos pássaros e até pela borra de café em espirais no fundo da caneca. Há quem ouça a verdade ser dita pelos lances de dados, pelos jogos de búzios, pelas pedras das runas e até pela disposição caótica dos detritos no estômago dos animais sacrificados.