Crônicas

Viver é morrer um pouco a cada dia. O tempo é devorador de todas as coisas

Viver é morrer um pouco a cada dia. O tempo é devorador de todas as coisas

Pense bem. Rememore sua infância. Lembre-se daquele desajeitado primeiro beijo, do familiar cheiro de café na cozinha aconchegante, da professora que lhe ensinou geometria… Feche os olhos e note o quão vivas podem ser essas lembranças, quase como se estivessem acontecendo novamente. Isso tudo existiu, certo? Faz parte do grande arcabouço dos fatos que lhe pertencem. O que divide o que já se foi e o que ainda virá é essa tênue e frágil linha chamada presente.

Pessoas que riem de tudo são mais livres

Pessoas que riem de tudo são mais livres

Nem tudo parece desejo e desespero. Eu respondi que não estava interessado em me divertir um pouquinho em troca de cinquenta pilas. Estava um calor infernal naquela tarde, portanto, fiz uma contraproposta. Ofereci a ela um picolé de groselha. Ao contrário do que vocês possam imaginar — e até desejar — , ela não mandou que eu o enfiasse no rabo. Sorriu sem economia, aceitou o mimo e as negociações de alcova morreram ainda no nascedouro.

‘Entre as diversas formas de mendicância, a mais humilhante é a do amor implorado’

‘Entre as diversas formas de mendicância, a mais humilhante é a do amor implorado’

O amor é um encontro entre quereres. Quando um não quer, dois não amam. É triste quando alguém se convence que é possível amar por dois. O coração maltrapilho se ilude a vestir, todos os dias, sua fantasia de ser-amado. Persiste em dançar sem se dar conta de que a festa acabou. Cadeiras empilhadas, música desligada, luzes apagadas. Não há mais uma alma viva no salão. É… o coração não sabe ainda, mas está em plena quarta-feira de cinzas.