Crônicas

Testamento vital para uma alma viva, ou o autoréquiem de um pobre diabo

Testamento vital para uma alma viva, ou o autoréquiem de um pobre diabo

Quando eu morrer, aos cento e vinte anos, esquálido, terminal e sem audição, não digam que eu descansei. Não devolvam sobre os meus restos mortais o peso da minha própria morte. Quando eu morrer, aos cento e dez anos — Noel Rosa me perdoe — mas quero choro e vela, apesar de tudo. Também quero a fita amarela gravada com o nome dela, mas não se esqueçam do choro. Nem da vela.

Os desentocados

Os desentocados

Eles saem das tocas. Onde estavam esse tempo todo? E vão para junto do povo, pelo menos para junto dos grupelhos que conseguem reunir numa rua, numa casa de quintal grande, numa praça, numa quadra, num campinho, numa rodinha de cadeiras plásticas, numas fileiras de cadeiras, parecendo um culto, uma igreja — foram avisados, convidados previamente? E falam e gesticulam e sorriem.

Elvis morreu Reprodução / Jailhouse Rock

Elvis morreu

Apesar de me sentir um tanto frustrado com o filme do Elvis, saí animadíssimo do cinema, saltitante, calvíssimo, repleto de sonhos e de planos, a requebrar os quadris como um faquir. Só que nenhuma criatura viva, nem mesmo uma barata, se atirou cativa aos meus pés. Eu estava mais para um cover cafona do Elvis, na famigerada fase de Las Vegas, tipo um cantor em final de carreira numa decadente casa de bingos no interior do Brasil.

Na encruzilhada do Brasil Profundo: entre serestas e Villa-Lobos Foto / Selma Giorgio

Na encruzilhada do Brasil Profundo: entre serestas e Villa-Lobos

Durante boa parte dos anos em que frequentei a faculdade, localizada no subúrbio de São Cristóvão, em Sergipe, dividi com amigos de sala, vindos de tantos estados do Brasil, muitos encontros de bebedeira. E não raro, ensaiei convidá-los a ir às serestas do bairro, onde também fiz muitos amigos entre os moradores dali. Eu ia porque amava a música brega, me lembrava de minha infância, no final dos anos noventa. Alguma coisa de um “Brasil real”, distante da bolha que nos cerca o ambiente universitário.