Crônicas

Faça o bem, em silêncio

Faça o bem, em silêncio

Um vídeo no Facebook despertou minha atenção: no metrô, um grupo filmou o amigo cedendo o lugar para uma idosa. Até aí, tudo bem — mesmo sendo um direito da senhora, não custa nada ser gentil. Porém, ao final do vídeo, o bom samaritano vai ao encontro dos amigos e é recebido com festa. Seu gesto foi celebrado como um feito heroico!

Como se tornar o idiota da selfie

Como se tornar o idiota da selfie

Enquanto seguro meu garfo cheio de um suculento macarrão, me belisco e olho para o lado, apenas para checar se aquele momento de divindade gastronômica é real. Imediatamente desejo não ter me virado. A cena bizarra se repete novamente: uma moça bonita aciona a câmera frontal do celular e o estica frente a seus seios fartos, realçados por um vestido a vácuo, enquadrando-os junto a um prato de sobremesa. Ao longo da última hora, aquele deveria ser o quinquagésimo autorretrato (sou do tempo em que “fotinha” era retrato).

Para ser feliz, curta o lance de viver

Para ser feliz, curta o lance de viver

Certa vez, um paciente me falou que queria parar de tomar todos os seus remédios, pois estava cansado de engolir diariamente os comprimidos da pressão alta, do diabetes, do colesterol e do hipotireoidismo. Após explicar-lhe a importância de seguir o seu tratamento, perguntei por que ele estava pensando nisso. “É difícil ser feliz com tantos problemas”, ele me respondeu.

Quando me sinto triste, penso nos lábios da Scarlett Johansson

Quando me sinto triste, penso nos lábios da Scarlett Johansson

Não se preocupe com isso. Quando me sinto triste, solidão é remédio. Quando me sinto triste, cigarras cantam nos arredores do meu vazio anunciando que a chuva já vem. Tempos ruins? Olhos nublados sujeitos a pancadas de lágrimas? Não. Nada disso. Sinto muito discordar da esbelta moça do tempo. A chuva me alegra, tanto quanto o seu perfil esguio e as pernas de louça.

Meu encontro com Bud Spencer

Encontrei-o apenas uma vez. Foi em San José, Costa Rica. Eu acabara de regressar ao hotel. Estávamos sedentos e ansiávamos por um copo d’água. Ninguém na recepção. Nenhuma viva alma no enorme hall. O bar, oposto à recepção, fechado. Num grupo de homens, no meio do salão, vejo um deles de costas para mim, baixo, gordo, pescoço curto, nuca de touro e um copo d’água na mão esquerda. Com a mão direita gesticulava à italiana. Conheço este camarada de algum lugar, pensei. Nesse momento o homem gira o seu pesado corpanzil de forma que me foi possível vê-lo de perfil. Reconheci-o.