Crônicas

Como escolher um deus

Como escolher um deus

Deuses são caprichosos e exclusivistas. Tenha muito cuidado com deidades ególatras que se acreditam únicas, permitem apenas o monoteísmo e punem os faltosos com enchentes de rãs e terremotos de gafanhotos. Se puder optar, prefira o politeísmo. Se não puder, experimente pelo menos o catolicismo. Deuses onipresentes são como parentes chatos que nunca vão embora. Deuses oniscientes são como vizinhos bisbilhoteiros que não tem o que fazer. Deuses onipotentes são como argentinos: pensam que são grande coisa, mas é só pretensão e água benta.

Pego amor mesmo! Minha imunidade sentimental é baixa

Pego amor mesmo! Minha imunidade sentimental é baixa

Está no receituário das frases filosóficas da internet, está nos conselhos dos youtubers: Aconteça o que acontecer, não se apegue! O incentivo aos relacionamentos voláteis atuais tem disseminado a ideia de que é possível cruzar a vida sem se ater a urgência dos afetos e sentidos, ignorando sua convocação e seus inevitáveis atravessamentos de prazer e dor.

Existe vida além do WhatsApp. Só não contaram pra você

Existe vida além do WhatsApp. Só não contaram pra você

No princípio dos tempos, a solidão era a grande companheira do homem. Muitas eras depois, com o alvorecer da evolução dos seres, suas formas e sentidos, a comunicação tornou-se sua consorte, estabelecendo um modus vivendi do qual jamais viria a se divorciar. Gestos, gritos, posturas e grunhidos foram supostamente os primeiros recursos usados. Com a adoção e o aprimoramento de novas técnicas, o desenvolvimento de objetos e símbolos facilitou sobremaneira a troca de informações.

Será falta de fair play arrancar sua cabeça e usá-la como bola?

Será falta de fair play arrancar sua cabeça e usá-la como bola?

Isso aqui não é a Reader’s Digest. Leitores sem estômago para a leitura devem sair agora ou se calar para sempre (pelo menos, até o último parágrafo). Vou começar escrevendo como faria um velho escriba que não sou. Provenho de uma época em que se jogava futebol na rua, rachas no terrão do lote baldio ou cu-de-boi sobre a laje fria de uma sepultura (juro pelas chagas de Cristian & Ralf), descalço, chutando qualquer coisa que fosse redonda, inclusive uma bola de cobertão, que era mais bem tratada que uma mulher: com muito carinho, cuspe no bico e sebo de vaca nos gomos.