Crônicas

Não me leve a mal, me leve apenas para perto do mar

Não me leve a mal, me leve apenas para perto do mar

Trânsito parado. Buzinaço, panelaço, estardalhaço, monóxido de carbono, janelas, milhares de janelas. Muro pichado, rádio, reunião, relógio, urgência, mendigo, mágico, músico, maluco, grito, golpe, fora, dentro, fica. Gente, mais gente, o vendedor de pipoca rosa, amendoim, moleque da bala, limpador de para-brisa, manifestação, poluição, desnutrição — vende-se a felicidade no panfleto. Malabarista, palhaço, ricaço, pobraço, ativista, táxi, ônibus lotado, artista — no poste: “Trago seu amor em sete dias”.

Quando o amor crescer em mim, eu vou voar

Quando o amor crescer em mim, eu vou voar

Quando eu crescer, não quero ser igual a você. Fazer fortuna. Aplicar na bolsa. Comprar um carro asiático. Multiplicar o patrimônio da família. Criar estratégias contábeis para pagar menos impostos ao Governo. Esse mundo simplesmente não me interessa. Quando eu crescer, penso em me manter desgovernado o bastante para seguir o meu caminho. A minha declaração de imposto de renda, coitada, de tão pífia, vai caber num papel de balinha, rimada em versos adocicados ao som dos pífaros, provavelmente, um haicai.

Mais de 100 mil preciosidades artísticas para download e consulta online

Mais de 100 mil preciosidades artísticas para download e consulta online

O Getty Research Portal disponibiliza mais de 100 mil documentos artísticos para download ou consulta online. O acervo, considerado um dos maiores repositórios culturais do mundo, traz preciosidades históricas sobre arquitetura, pintura, escultura, teatro, cinema, música, dança, fotografia, além de raras edições ilustradas de livros clássicos. A coleção é o resultado da parceria do Getty Research Portal com uma dezena instituições, em cinco continentes, que cederam parte de seus acervos para digitalização e acesso gratuito.

A mania de algumas pessoas acharem que o mundo gira ao redor de seus umbigos

A mania de algumas pessoas acharem que o mundo gira ao redor de seus umbigos

Todo mundo conhece uma pessoa assim: na roda de conversas, ela domina o assunto, conta mil histórias sobre si, é completamente desinteressada do que os outros têm a dizer e cria situações para arrancar elogios a fórceps. Se você quiser falar alguma coisa, querido, aproveite enquanto ela enche o pulmão de ar, porque é tudo o que lhe resta. Conversar com egocêntrico parece uma corrida de 100 metros rasos: termina-se cansado, como se a mais simples troca de informações fosse uma competição de gogó por quem fala mais, mais alto e sobre a própria vida.

Somos as palavras que trocamos, os erros que cometemos e os impulsos que cedemos

Somos as palavras que trocamos, os erros que cometemos e os impulsos que cedemos

Somos o que restou do que um dia fomos. Somos o pó de uma infância feliz e a nuvem fazendo pairar incertezas sobre uma velhice digna. Somos o mundo de alguém e o nada para o mundo inteiro. Somos a promessa de evolução, assim, sem pressa, caminhando numa procissão sem rumo, com a fé de que lá na frente seremos um tantinho melhores. Nunca estivemos tão perdidos nessa romaria chamada Vida. Procuramos caminhos e saídas através dos pés dos outros, escutando vozes paralelas à nossa, seguindo andarilhos igualmente perdidos. Nos preocupamos em saber para onde ir, quando nem sabemos quem realmente somos.