Crônicas

Temos vagas para sonhadores

Temos vagas para sonhadores

A taxa de desemprego no país andava um escândalo. Minha falta de inspiração também. Ambas batiam os 15%. “Tempos bicudos”, diziam o meu editor, o IBGE, as Marias e os Josés, por onde quer que eu fosse. Com um pouco de sorte, eu ainda estaria empregado até que redigisse este texto. Estava atoa na vida, o meu amor me chamou pra ver a banda passar tocando coisas de amor e também para visitar uma agência de empregos do SINE a fim de conhecer quais eram as demandas do mercado de trabalho no Brasil.

A misteriosa arte daqueles que desaparecem depois de um encontro

A misteriosa arte daqueles que desaparecem depois de um encontro

Tirar do esconderijo a obviedade que requer a execução de tal número, talvez não seja a mais difícil das revelações. Meia pitada de sinceridade e o segredo do moço ou da moça desaparecida fica tão óbvio quanto o coelho escondido no fundo da cartola. A verdade, sem efeitos especiais, é simples: o sujeito não quer. Não quer o depois do encontro. Não quer nada para amanhã. Sumiu porque não topa. Nessa história de abracadabra, todos nós, em algum momento da vida, caímos feito patos no truque; ou fomos nós os ilusionistas fugidios.

Apenas amar não basta. É preciso cuidar para fazer dar certo

Apenas amar não basta. É preciso cuidar para fazer dar certo

A verdade é que se acostuma com a presença do amor, mas a falta dele também é capaz de se instalar com dolorida certeza. Ninguém deixa de amar do dia para a noite, mata-se o sentimento aos poucos: na ausência do toque, na supressão de diálogos, nos descasos cotidianos, nas ironias degradantes, nas implicâncias gratuitas ou em tantos outros pequenos abandonos que, enquanto maltratam, vão construindo a certeza do ponto final.

Sorria. Você está sendo amado

Sorria. Você está sendo amado

Conheço um sujeito que nunca sorri. Não que eu tenha visto. Cai a tarde. Que sorte a minha. Um pássaro garboso de três cores pousa e se aninha no jardim. O outono diverte a paisagem, atapetando o caminho com folhas secas. Créc-créc-créc. É gostoso pisar sobre elas enquanto se anda. Um cão demarca território usando a própria urina. Ah… e se os humanos fossem assim? Muro ou mijo? O que mais nos separa? Eu rio. Um casal se beija na esquina à espera de amor ou de um flash. A dívida quitada abre espaço para um sorriso, mas, aquele homem cujo nome eu nem sei, simplesmente, não sorri.

Amor nenhum cabe em gaiola Gaiola

Amor nenhum cabe em gaiola

Meu pai sempre dizia que, para conhecer com quem vamos nos casar, é preciso primeiro separar. Isso mesmo. “A gente só conhece o outro depois que se separa, minha filha.” É… A separação deveria ser o pretérito imperfeito do matrimônio. Meu pai não tinha diploma, não falava outras línguas, não era culto. Mas ele possuía algo para o qual, naquele tempo, eu não dava a menor importância. Meu pai era um homem experiente. E experiência supera, até mesmo, a sabedoria.