Crônicas

O que você fala nem sempre (quase nunca) é o que o outro entende

O que você fala nem sempre (quase nunca) é o que o outro entende

Desde cedo, descobri — da forma mais curiosa possível — que não vemos as cores da mesma forma. Até hoje ainda acho muita graça quando discuto com minha querida mãe sobre cores que transitam entre laranja, rosa e vermelho. Minha paleta é imensa, vejo rosa-bebê, pink, fúcsia, vinho, ocre etc. As nuances dela também são várias, mas nunca batem com as minhas quando estamos nesses tons. Se vejo pêssego, ela vê rosa-chá, se vejo amadeirado, ela vê vinho claro. Geralmente, terminamos o assunto rindo (e com certa pena uma da outra), já que reciprocamente nos consideramos daltônicas. Jamais saberemos qual das duas nasceu com defeito de fábrica.

Um bom livro e um bom vinho são melhores do que muita gente

Um bom livro e um bom vinho são melhores do que muita gente

Hoje eu sei que não preciso mais me agarrar à adrenalina para me sentir viva. Ler um livro, assistir a um filme, encontrar um amigo me fazem melhor do que voar de asa delta, por exemplo. Chega uma época em que não precisamos mais de autoafirmação. Nós nos conhecemos tão bem que já não fazemos a menor questão e o mínimo esforço para agradar aos outros. Não temos mais a necessidade de nos sentir aceitas, da mesma forma que também não aceitamos qualquer um e qualquer programa.

Não precisa ser eterno. Basta ser bom

Não precisa ser eterno. Basta ser bom

A gente sofre é com o fim. Há incômodo na relação morna, tédio por viver na cidade que já não comporta nossos planos, frustração no emprego que era dos sonhos e agora é corrente que freia novos passos. Mas a gente aguenta. Levanta o queixo, ajusta falhas, engana a alma, forja felicidade. A gente adestra decepções para fugir do desconcerto que nos assola quando é preciso encerrar fases. E, então, mergulhados na crença capenga de que se um dia foi bom tem potencial para ser imortal, a gente começa a esticar sentimento morto, a repisar terreno gasto.

Está na hora de as pessoas entenderem que nem toda crítica é inveja

Está na hora de as pessoas entenderem que nem toda crítica é inveja

Nos áureos tempos de Orkut, lembro-me de uma comunidade bobinha chamada “Sua inveja faz minha fama”. Era bastante infantil e, exatamente por isso, de fácil deglutição. A impressão que dá é a de que o melindre das pessoas tem transformado o mundo numa arena de supostos invejosos construindo supostas famas (já têm até nome: são os “haters”). Mas tanta inveja pressupõe a existência de indivíduos cheios de predicados invejáveis.