Crônicas

O corpo é uma droga

O corpo é uma droga

Eivado de hipocrisia, reencontrou-a no horário desmarcado. Um acaso dos diabos. Eram dois raios que volta e meia caíam sempre no mesmo lugar. A cama. Largavam-se na cama. Alargavam os horizontes. Zoneavam. A cama era como um campo de entrega, de colheita e de fastio. Ali se plantava. Ali se colhia. Escolheram qualquer colheita, o que viesse já estava de bom tamanho para além do estio.

Sobre o envelhecimento dos ídolos, das armas e das rosas

Sobre o envelhecimento dos ídolos, das armas e das rosas

A música sempre teve um poder impressionante de aglutinar e setorizar os grupos de jovens. Fenômeno cultural que remete aos primórdios das organizações sociais, sempre nos juntamos, em especial na adolescência e juventude, àqueles que amam o mesmo tipo de música que nós e, ali, nos dividimos no que se convencionou a chamar de “tribos”.

Mais um otário à frente de seu tempo

Mais um otário à frente de seu tempo

Em tempos de meninice, bom mesmo era relevar, mas, eu não relevava. Certo mesmo era levar a vida na flauta, mas, eu não levava. Prendia o futuro com as mãos em ânsias de devaneio e ele sempre escapava entre os dedos. Nada mais natural. Em dado momento — degredo de mim mesmo — a descoberta da finitude humana fez-me reconhecer que, muitas das vezes, os momentos felizes aconteciam somente pelos lépidos olvidos do sofrimento.

Não deem adeus à nossa bandeira!

Não deem adeus à nossa bandeira!

Nas recônditas salas de aula do pré-escolar, as crianças são postas a se entreter na tarefa de pontilhar, em papel ofício, a bandeira do Brasil com as suas cores correspondentes, seja com giz de cera, lápis de cor ou com pequenas bolinhas de papel, em colagens desastradas para o manuseio de crianças de quatro anos.

Do que é mesmo que os cães estão rindo

Do que é mesmo que os cães estão rindo

João é um canídeo ordinário, sem raça, sem pulgas e sem boletos. É vê-lo sentado daquele jeito e enxergar graça do bichinho. Tenho uma certa queda por cães desclassificados com ar patético. Nota-se que o vira-latas abana o rabo de um lado para o outro, como se fora um espanador a varrer o assoalho da varanda. Ao abanar o rabo, os cães encontram uma forma explícita e direta de demonstrar gratidão, apreço, felicidade e compaixão.