Crônicas

Eu comeria o seu cérebro

Eu comeria o seu cérebro

Quando nós nos conhecemos, você disse que comeria o meu cérebro. Pensei que estivesse bêbada. Ou drogada. Ou surtada. Ou menstruada. TPM ninguém sabe. Fiquei estupefato. Fui pego de surpresa durante um porre coletivo civilizado num vernissage. Achei o comentário bizarro, pois, levei a coisa toda ao pé-da-letra, no sentido literal. Eu demorei a sacar que aquilo era uma espécie de elogio.

O insistente dilema entre os prazeres de morar fora e a saudade dos que amamos

O insistente dilema entre os prazeres de morar fora e a saudade dos que amamos

É um cabo de guerra. De um lado a possibilidade de descobrir um mundo inexplorado e altamente convidativo. Do outro, o aperto que machuca o peito dos que optam por voar para longe do lar. Quem decidiu — por apreço à liberdade ou por necessidade — construir uma vida a milhares de quilômetros da cidade de origem conhece bem os conflitos que permeiam essa escolha. Algumas vezes há prazer em abrir a janela e enxergar a avalanche de novidades que reaviva a alma dos que trilharam caminho em direção oposta à zona de conforto.

Cantada não é elogio, é assédio

Cantada não é elogio, é assédio

Cantada não é elogio, é assédio. As ocasiões em que me senti coagida ou submetida a humilhações de cunho sexual constatam que ainda há homens que não entenderam que nós, mulheres, não gostamos de olhares constrangedores para nossos peitos e nossas bundas, não queremos ser enxergadas como o “sexo frágil” e detestamos ouvir gritos como “ô gostosa!” ou “delícia!” quando eles fazem parte de cantadas baratas e flertes não correspondidos.

Deus é brasileiro, mas, requereu cidadania sueca

Deus é brasileiro, mas, requereu cidadania sueca

Odeio esse país. Amo essa joça. Agora é pra valer: eu gosto do Brasil porque tivemos Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Carlos Drummond de Andrade e Glauber Rocha. Viver numa nação com dimensões continentais é retirar pedras do caminho. Há sempre um caminhão delas a atravancar o progresso. Eu gosto do Brasil. Eu gosto de rir, mas, por favor, senhores, não me façam de palhaço. Não me digam que toda essa bandalheira institucionalizada é coisa de agora.

A verdade é uma só: apenas os tolos acreditam em Deus

A verdade é uma só: apenas os tolos acreditam em Deus

No mundo das impressões apressadas, a crônica que falava sobre amor, escolhas e vontades ganha contornos de apologia ao aborto. O relato sobre a importância de valorizarmos a juventude e o tempo que escorre pelas mãos, é visto como desprezo à terceira idade. A ideia central estava ali, a dois minutinhos do título, ansiosa por ser notada. Com um pouco de disposição e paciência o indignado poderia perceber-se equivocado. Mas há prazer na indignação precipitada. É ela que faz o peito palpitar, entusiasmado pela oportunidade de ser combativo.