O filme “20.000 Dias na Terra”, de Iain Forsyth e Jane Pollard, é um dos mais criativos e interessantes a tratar do universo do rock. O documentário pode ser visto na plataforma do festival In-Edit Brasil. A câmera acompanha o momento que antecede o aniversário de 55 anos do cantor e escritor australiano Nick Cave, em 2012. Ele encarna o último bluesman, vestido de preto como fazia Johnny Cash. As tragédias também fazem parte de sua vida.
Todo homem dotado de alguma razão sabe que a morte é o único aspecto positivo da vida, justamente por se constituir na negação da própria vida e, consequentemente, na negação de toda vontade. E Arthur Schopenhauer, dono da razão, sabia disso muito bem. Tanto que sua obra máxima, “O Mundo Como Vontade e Representação”, versa sobre como só a razão, a verdadeira razão, é a única capaz de redimir, mesmo quando traiçoeira. E se a própria razão é traiçoeira, tudo o mais resta perdido.
Fui criada numa família de mulheres noveleiras. Minha avó materna aprendeu a mexer no bicho papão do vídeo cassete só para poder gravar as novelas preferidas e não perder nenhum capítulo. Durante anos fui consumidora de novelas da Globo, mas depois de “Avenida Brasil” — que foi aquele escândalo de novela — nenhuma outra me pegou. Praticamente parei de assistir a rede Globo. Troquei pelo streaming.
Há pouco espaço no mundo atual para uma tragédia, com o significado tradicional desse formato. A boa história trágica tinha um conflito público que envolvia a relação privada e complexa de uma família. Poderia ser o drama do Édipo de Sófocles, na Grécia antiga, ou o trono manchado de sangue de Macbeth de Shakespeare.
A capacidade do homem em exercitar seu lado animalesco e aprimorar sua natureza de fera, solta no mundo que ele dominou e que julga seu parece a única certeza que se pode ter acerca da vida — além de que mais cedo ou mais tarde ele vai acabar mal. A alma humana é plena de mistérios, segredos, pecados, crimes inconfessáveis à luz do ordenamento jurídico. Quando em sociedade, os mais normais nos comportamos de maneira a, pelo menos, não despertar suspeitas; na vida íntima, bem, aí o céu é o limite e vai se saber o que é feito dos sentimentos guardados a sete chaves e das emoções reprimidas de cada um.