Em uma Inglaterra ainda sufocada pelas ruínas da guerra e pelas convenções da aristocracia, uma jovem criada atravessa os limites da obediência para descobrir, em um breve e transformador dia de primavera, a origem da própria voz. O filme de Eva Husson é menos sobre romance e mais sobre como a escrita nasce do silêncio — e como a subjetividade feminina desafia a invisibilidade com palavras.
“Maria e o Cangaço” repassa algumas dessas questões, mirando Maria Gomes de Oliveira (1911-1938), Maria de Déa ou Maria Bonita, como passou à História. A baiana morena das pernas grossas foi uma personagem central no noticiário dos anos 1930, capaz de provocar estranhamento e admiração, tópicos muito bem destrinchados por Sérgio Machado nos seis capítulos da nova minissérie da Disney+, livremente inspirados em “Maria Bonita: Sexo, Violência e Mulheres no Cangaço” (2018), a biografia romanceada da jornalista Adriana Negreiros.
Há sempre um elemento de sátira sociopolítica em filmes que denunciam a barbárie do que pode vir a se tornar a vida na Terra num prazo que talvez nem seja assim tão longo, e “Finch” confirma esse pendor. Miguel Sapochnik também não sabe onde vão chegar o aprendizado das máquinas e todas as falsas urgências de que a encarregamos sem trégua, mas uma coisa parece óbvia em seu filme: os afetos não hão de morrer.
O que deveria ser uma celebração global da paz transformou-se numa transmissão do horror. Em “Setembro 5”, Tim Felhbaum revisita o ataque do Setembro Negro aos atletas israelenses nos Jogos de Munique de 1972, expondo como a TV, ainda despreparada, foi tragada pelo caos. A obra reconstrói com precisão e desconfortante minúcia o momento em que o terrorismo entrou pela porta da frente da história mundial, diante de novecentos milhões de espectadores.
Ignorando a tentação de se tornar uma peça nostálgica ou um manifesto revisionista, “Bad Boys para Sempre” reinventa sua própria fórmula ao transformar o peso do tempo em matéria dramática e cômica. Não tenta parecer maior do que é — e justamente por isso, alcança uma honestidade rara no gênero. A ação ainda explode, mas agora com a consciência de quem já aprendeu a rir da própria pose, sem perder o senso de espetáculo e afeto que sustentou a franquia.
