Lamento informar que, por motivo de morte em família, não poderei comparecer ao próximo rendez-vous

Lamento informar que, por motivo de morte em família, não poderei comparecer ao próximo rendez-vous

Calor infernal. Cafezinho frio. E o meu coração gelado anotando tudo. Escritores são cruéis pra burro. Quase acertei um antigo desafeto com um murro. Sim, sou um lamentável poço de mágoas. Mulheres sem anáguas, histéricas, posso lhes assegurar, debruçavam-se sobre o caixão, debulhando lágrimas, encharcando o terno do vozinho. Moscas zuniam, riam da gente. Um bobinho de sessenta e tantos anos enchia o saco de todo mundo fazendo comentários sem pé nem cabeça. Ô, raiva. Um pandemônio, enfim.

Se eu pudesse te dar um conselho, eu diria: faça amor sem moderação

Se eu pudesse te dar um conselho, eu diria: faça amor sem moderação

Se eu pudesse te dar um conselho, eu diria: viva mais. Ame mais, perdoe mais, beije mais. Solte as suas gargalhadas, ligue para um amigo, abrace com vontade, segure firme outras mãos, olhe nos olhos. Escute. Cante. Veja além do horizonte. Faça a diferença em outras vidas. Doe comida, brinquedo, abrigo. Doe o seu tempo. Para viver não basta respirar, é preciso fazer com que o mundo a sua volta respire também.

Confesso, sem nenhum resquício de vergonha, li Dan Brown e gostei

Este pequeno ensaio resulta de uma tentação, talvez de uma heresia: comparar um best-seller, “O Código da Vinci”, de Dan Brown, a um conto da alta literatura, “A Morte a Bússola”, de Jorge Luis Borges. Borges, por convicção, se vale da economia do conto; Brown, da prolixidade romanesca, e aqui termina a diferença mais óbvia. Quanto às semelhanças, um e outro intrigam a religião (Borges o judaísmo, Brown o cristianismo); um e outro partilham o gosto pela trama policial, possuem notável erudição e escrevem histórias fantásticas.

É no copo meio cheio que encontramos força e sentido. Priorizar o lamento é torturar a si mesmo

É no copo meio cheio que encontramos força e sentido. Priorizar o lamento é torturar a si mesmo

Sempre tive um pouco de resistência aos que acordam cantando e gargalham sem motivo. Olhava com desconfiança para aquela criatura que parecia brotar de um musical da Disney em plena segunda-feira de trânsito pesado e boletos atrasados. Apostava comigo mesma que mais cedo ou mais tarde os passarinhos verdes haveriam de ceder espaço ao Demônio da Tasmânia que mora em cada um de nós e a hashtag “gratidão” daria lugar a indiretas amargas no Facebook. Até que entendi que, com exceção de alguns poucos que forjam positividade para alimentar vaidades, há um número enorme de pessoas ensinando genuinamente as vantagens de enxergar o mundo com olhos mais otimistas.

A obsessão por celebridades é um soco no estômago de nossa autoestima

A obsessão por celebridades é um soco no estômago de nossa autoestima

Curiosidade por quem está no topo não é privilégio deste século. A vida da corte e da nobreza, bem como de certos intelectuais renomados, sempre foi cercada de bochichos e cochichos. Desde sempre, as pessoas curtem o escapismo das fofocas e unem-se em torno de um mesmo ídolo, respirando juntas o aliviado ar de quem sai de suas vidas normais e vive algo que pareça extraordinário. Formar satélites em torno de coisas em comum dá certo senso de identidade, de existência. Alimenta uma imposição psicológica.