Não jogue pérolas aos porcos

Não jogue pérolas aos porcos

Mais um ano de eleição. Mais promessas, mais injúrias. Novos rostos, antigos. Novas ofensas, antigas. Sujeiras criando raiz por debaixo dos panos, ruas imundas, jingles insuportáveis martelando o compasso brega no mais profundo do tímpano. É, meu amigo. Quatro anos passaram tão rápido feito bala perdida. Vejo cidadãos enlouquecidos levantando bandeiras, aclamando candidatos aos gritos, defendendo fervorosamente e cegamente um competidor e um partido. Venho acompanhando os debates políticos e a cada round assombrosamente consigo me surpreender com o ser humano.

Sem taxímetros também se vai ao céu

Sem taxímetros também se vai ao céu

Não costumo escrever a respeito dos meus destinos de viagem para não parecer mais presunçoso e metido a besta do que penso. No duro: não sou de vomitar cruzeiros all-inclusive, de me deixar fotografar ao lado de uma centenária torre francesa enferrujada. Melhor seria fazer um selfie com a septuagenária La Belle de Jour. É líquido e certo: Catherine Deneuve e o Rio de Janeiro continuam lindos.

Viver é resgatar os sonhos esquecidos no fundo do armário

Viver é resgatar os sonhos esquecidos no fundo do armário

Vencer dificuldades, ultrapassar preconceitos e seguir em busca de sonhos e ideais nem sempre é uma jornada fácil nessa vida tão competitiva e cheia de inveja e intolerância. E, muitas vezes, temos que primeiramente enfrentar uma luta interior antes de estarmos prontos para a guerra que acontece lá fora. Mas, quando existe paixão de verdade e uma autêntica aspiração de quem sonha, não há limites que possam ser enfrentados. Quando eu escrevo, tento superar os meus limites. Inicio uma busca incessante das minhas lembranças, de mim mesma, dos meus sonhos guardados e até daqueles que foram esquecidos em caixas bem lá no fundo do armário.

O melhor livro do ano

O cartapácio “O Pintassilgo” (Companhia das Letras, 719 páginas, tradução de Sara Grünhagen), da escritora americana Donna Tartt, desconcerta a crítica, mesmo um especialista como James Wood, da “New Yorker”, que não soube apreciá-lo. Os motivos? Aponto um: o romance é uma catedral do século 19 com frequentadores (com hábitos) do século 21. Há um cruzamento hábil, com movimentos rápidos e lentos — simulando um jogo ardiloso, nem sempre visível numa leitura apressada —, da prosa mais convencional do século 19, mais lenta e discursiva, com a prosa experimental do século 20, mais rápida e contida.

Para onde vão os idiotas quando chegam ao topo

Para onde vão os idiotas quando chegam ao topo

A noite já era feita lá fora e o homem ali, passeando por dentro. Lembrou de seus sacrifícios todos. Suas horas sem dormir, sua sede e sua fome não atendidas. Recordou os cachorros quentes consumidos às pressas, ele nunca esqueceu o quanto é bom um cachorro quente barato. Sentiu até o gosto do molho de tomate, a salsicha saborosa, o tempero forte, a maionese. De suas certezas todas, a de que às vezes só um cachorro quente pode salvar a sua vida persistiu. Não fosse agora um rico frequentador de caros restaurantes, jantaria um senhor cachorro quente na calçada lá embaixo.