Venham comigo ao cinema, antes que o diabo saiba que vocês estão mortos

Venham comigo ao cinema, antes que o diabo saiba que vocês estão mortos

Aquilo parecia uma intriga internacional contra a minha pessoa. Eu estava encurralado. Eu fora transformado num verdadeiro farrapo humano. A impressão que eu tinha era que nem todos os homens do presidente poderiam me tirar daquele inferno na torre. Era um tempo de violência. Já tinham jogado o Cidadão Kane e o Grande Gatsby pela janela indiscreta. Um corpo que cai do quarto andar mete medo em qualquer um. Éramos naquele apartamento bem mais do que três homens em conflito. Para ser exato: doze homens e uma sentença. Eu me sentia um estranho no ninho metido naquele verdadeiro sindicato de ladrões.

É possível confiar sem possuir? O ciúme e o seu jeito sufocante de amar

É possível confiar sem possuir? O ciúme e o seu jeito sufocante de amar

Eu sei tudo sobre você. Conheço todos os teus amigos, os colegas de trabalho, sei dos teus casos passados. Me acerco da tua família, conheço os vizinhos e os porteiros, os clientes, a moça da limpeza. Já decorei os contatos da tua agenda. Eu monitoro o teu celular e as tuas redes sociais. Tenho todas as tuas senhas, baixo os teus e-mails, vejo a fatura do teu cartão, tenho a chave da tua casa. É por isso que eu confio em você. Só por isso.

Umberto, um fraco Eco de si mesmo

Umberto Eco é um gênio esgotado, preguiçoso ou um fanfarrão? Ou tudo ao mesmo tempo agora? Sim, essa é uma abertura provocativa e, deliberadamente, bombástica, para tentar chamar sua atenção. Porém, para além disto, mais uma vez sigo o sábio conselho com o qual o venerável mestre Antonio Candido abriu seu “Literatura e Sociedade”: “Nada mais importante para chamar atenção sobre uma verdade do que exagerá-la”.

A beleza é uma embalagem. O que realmente importa vem de dentro

A beleza é uma embalagem. O que realmente importa vem de dentro

De mansinho, eles começam a aparecer, um a um. No início, nem são notados, até que fica difícil ignorá-los. Aos poucos, você desiste de se desfazer deles, até finalmente assumir: os cabelos estão ficando brancos. Se despender alguns minutos frente ao espelho, percebe que uma ou outra ruga de expressão parece ter brotado do nada e uma gordura alienígena se instalou em seus flancos sem pedir licença de uns tempos para cá.

Manifesto pelo direito de não ter opinião

Manifesto pelo direito de não ter opinião

Com o heterônimo de Alberto Caeiro, Fernando Pessoa dizia haver “metafísica bastante em não pensar em nada”. O poeta disseminou incansavelmente a adoração da coisa pela coisa, dedicando especial atenção à contemplação da natureza em sua forma mais pura, desnuda de qualquer juízo de valor: “Creio no mundo como num malmequer, porque o vejo. Mas não penso nele porque pensar é não compreender… O mundo não se fez para pensarmos nele (pensar é estar doente dos olhos), mas para olharmos para ele e estarmos de acordo”.