Robbie Williams nunca foi apenas um ícone pop — ele encarnou as contradições de quem busca sentido em meio ao caos da fama. Em “Better Man”, sua jornada íntima é contada com ousadia estética e emoção crua, revelando um artista que se recusa a caber em moldes. Um retrato de quem, entre falhas e glórias, viveu sem pedir permissão, enfrentando seus demônios com ironia e coragem.
Como Robbie Williams, eu já quis apenas sentir amor no lar em que vivia. Esse é o refrão de “Feel” (2002), um dos muitos grandes sucessos de Williams, que como “Better Man”, dilaceram mesmo aqueles que nunca passaram por nada do que ele canta com toda a propriedade. “Better Man”, do disco “Sing When You’re Winning” (“cante quando estiver ganhando”, em tradução literal), lançado num jurássico ano 2000, cai feito uma luva para definir alguém que, como o personagem central da cinebiografia de Michael Gracey, segue juntando seus cacos, outro de seus versos, expostos em “Come Undone” (2002).
Com “Náufrago”, Robert Zemeckis faz questão de revisitar a imagem do tempo que passa, implacável, sob outra perspectiva. Chuck Noland, um engenheiro de sistemas que trabalha para a FedEx, parece ter a vida perfeita — até ir parar numa ilha deserta no meio do Oceano Pacífico. Esta é uma metáfora sobre autodescoberta e mudanças radicais ao cabo de um trauma violento, mas há muito menos espaço para respiros. “Náufrago” é um filme que derruba.
Sean Baker é um diretor que sabe onde pisa. Em “Anora”, seu olhar não escorrega na armadilha da caricatura nem se rende ao sentimentalismo de vitrine. Ele estrutura sua narrativa como quem arma uma armadilha de veludo: sob o verniz cintilante da primeira hora, esconde um mecanismo implacável, pronto para esmagar ilusões.
Ninguém está preparado para desaparecer do mundo. Em “Náufrago”, a erosão do tempo não se mede em dias, mas na transformação silenciosa de um homem condenado à ausência dos outros, de si, da própria ideia de futuro. Sob a direção de Robert Zemeckis, o filme é menos uma jornada de sobrevivência física e mais uma escavação emocional em terreno inóspito: o de alguém que, arrancado abruptamente do ciclo da vida, precisa aprender a existir num vácuo onde nada responde, nada acolhe, nada lembra.
