Autor: Marcelo Mirisola

Existe amor em Seropédica

Existe amor em Seropédica

Se acredito em Deus e nos seus subprodutos, o diabo incluído, e nas ilusões todas, nos sofismas, nas parábolas, nas elipses e na sabedoria de Salomão, se acredito que a rainha de Sabá atravessou a África durante meses, que se deslocou da Etiópia até Jerusalém somente para conhecer o autor de Eclesiastes e dar para ele, ou seja, se acredito num tesão de três mil anos, as palavras de Salomão continuam vivas, e desafiam a mais contundente e irrefutável sentença do próprio Salomão, filho de Davi.

Cão come cão*

Cão come cão*

Eu tive inveja dos adultos, muita inveja, e muito medo. Não conseguia me comunicar com eles, e criei uma identidade rancorosa que foi meu escudo e minha desgraça, tinha inveja do charme dos adultos e da lubricidade deles. Então fui ficando mudo, dentuço e esquisito, minhas pernas cresceram em desproporção ao tronco, e junto vieram as olheiras. Uma cegonha com adejos de morcego, mais as bochechas inchadas. Era a alma travada que dava as caras. Foi nessa época que a inveja me envergou.

A República de Ratanabá

A República de Ratanabá

A lista de malabarismos, credos e volteios, ideologias, engajamentos & falsos engajamentos servidos à fraude é extensa (…). Chega a ser constrangedor elencar personagens e situações, de modo que é melhor poupar os leitores dos detalhes mais sórdidos e/ou exóticos, quer dizer, talvez eu não resista e fale apenas de um caso à guisa de ilustração.

Jamais compraria um carro usado por Saramago Wikimedia Commons

Jamais compraria um carro usado por Saramago

O prazer de desfrutar de um bom livro é o mesmo de desfrutar da companhia de um bom amigo, ler por obrigação é algo tão sem nexo e esdrúxulo como ser obrigado a cultivar uma amizade. Uma coisa, porém, é ser amigo da obra. Outra, completamente diferente, é ser amigo do autor. Ainda que o autor da obra seja seu amigo pessoal. A propósito, tenho um ótimo amigo que é escritor, mas não gosto dos livros que ele escreve, não descem.

Vade retro século 20

Vade retro século 20

Anteontem participei de uma “performance” no Largo da Batata. A garota defecava defronte à Igreja de Nossa Senhora do Monte Serrat, e comia o próprio cocô. Depois oferecia beijos à plateia. Aceitei. E a beijei. Tinha mau-hálito. Depois do beijo, me dirigi aos curiosos, e proclamei: “Tem mau-hálito”.