Autor: Marcelo Mirisola

 Ainda estamos aqui? Divulgação / Alile Dara Onawale

 Ainda estamos aqui?

Saí do cinema com uma sensação de desperdício, e uma vertigem misturada com um travo de amargura, como se compartilhasse as perdas com a família Rubens Paiva. Uma vez que sou o que sou (ou o que fui) porque assumi um lado e desde sempre acreditei/comprei a ideia que a primeira parte do filme vendeu. Uma ideia, que virou um ideal, e descambou para uma merda de ideologia (mas essa é outra história, problema meu).

A biblioteca do diabo

A biblioteca do diabo

A regra para permanecer na minha prateleira — reparei nisso depois de quase 35 anos — a regra sempre foi a cor da pele, a truculência, o machismo e a misoginia. Devo agradecer, em primeiríssimo lugar, à tia Regina Dalcastagne da UNB, depois aos jurados dos concursos e curadores de feiras literárias, e aos coletivos de literatura das periferias, especialmente aos organizadores da Flup (festa literária das periferias) por me alertarem sobre esse lapso, ou melhor, para minha falta de caráter: pois nunca suspeitei que minha biblioteca podia ser estruturalmente machista e racista. Bem, nunca é tarde para mandar Graciliano Ramos para o lixo, autor declaradamente homofóbico e racista.

Apocalipse now

Apocalipse now

Diante da multiplicidade de horrores, misérias e falta de perspectiva em que a geração zero-zero está mergulhada, o confronto não assombra mais como no século passado. As guerras e as carnificinas são apenas mais dois itens, dentre tantos, no combo de ameaças à sobrevivência da espécie humana sob a face da terra. Putin e os outros três cavaleiros do apocalipse que o digam.

Todos castrados, menos eu e o Reinaldão que somos dois idiotas Renato Parada / Arquivo Nacional

Todos castrados, menos eu e o Reinaldão que somos dois idiotas

Faz um bom tempo, acho que mais de dez anos, que topei com um livro “psicografado” por Nelson Rodrigues. À época fiquei chocado não porque o autor — já no prefácio — renegava a própria obra, mas com o estilo que absolutamente não correspondia ao Nelson Rodrigues terreno. Como se a morte corrompesse a voz, as obsessões, o tesão pelas cunhadinhas e até a paixão pelo Fluminense. O tempo passou e hoje, talvez, eu não ficasse tão chocado com o estilo Chico Xavier de Nelson Rodrigues mandar seu recado.

Orwell versus Mãe Dinah

Orwell versus Mãe Dinah

Vivemos tempos de muita demagogia, falsos engajamentos e marketing tresloucado. De modo que o que se vende e o que se consome em todas as frentes — salvo as exceções de praxe — são oportunidades de negócios, tudo em nome da arte e da igualdade, como se uma coisa tivesse ligação com a outra. Portanto, além da questão das misérias que somente fizeram se agravar nas últimas décadas, também a alma humana definhou, perdemos em liberdade e individualidade: essas duas forças que juntas poderiam ser chamadas George Orwell — o homem que investiu bravamente contra os totalitarismos de sua época.