Autor: Larissa Bittar

Telas de celulares caros quebram facilmente. Relações edificadas em afeto, não

Telas de celulares caros quebram facilmente. Relações edificadas em afeto, não

A gente tem o direito de ter quatro tênis da Nike e ir a baladas nas quais é normal jogar champanhe caro para cima. Mas não foi no shopping nem nessas festas que encontrei o verdadeiro sentido de paz de espírito. Foi no meio do nada e, ao mesmo tempo de tudo, em uma comunidade com cavalos e lhamas, energia renovável, famílias em trajes artesanais e homens com orgulho e gratidão pelo que possuem e por serem quem são.

Os cérebros estão ocos. A empatia foi pro saco. A tolerância virou algo descartável

Os cérebros estão ocos. A empatia foi pro saco. A tolerância virou algo descartável

Não sei dimensionar dor, categorizar discussões como quem coloca etiqueta em potes de plástico. Não sei se grafite é arte, se comprar cachorro é monstruosidade, se fui mais lesada pela direita ou pela esquerda. Se não há consenso sequer sobre se o vestido é azul e preto ou branco e dourado, como esperar um olhar linear sobre todas as subjetividades que nos cercam? Mas é preciso um pouco de disponibilidade em compreender as pessoas e toda a carga de vida que as acompanha. Enquanto insistirmos em pisotear aqueles que fogem dos padrões que sacramentamos como corretos, perdemos humanidade.

Aceite elogios sem o dever de retribuir. Gentilezas verdadeiras não exigem pagamento

Aceite elogios sem o dever de retribuir. Gentilezas verdadeiras não exigem pagamento

Cai bem frearmos ímpetos de autobajulação. É admirável o altruísmo que credita a mais gente realizações pessoais. É antipático colocar-se sempre como centro das atenções e forçar os holofotes para si. Mas nada disso impede que sejamos benevolentes com nossos méritos e os enxerguemos como legítimos. É preciso libertar os elogios da cruz que os moraliza sob o argumento de que desvirtuam almas humildes.

O tempo é sempre aliado. Aborrecer-se com ele é estagnar a própria história

O tempo é sempre aliado. Aborrecer-se com ele é estagnar a própria história

Ainda sinto falta do meu Gradiente vermelho e das férias de julho. Sinto falta do entusiasmo dos vinte anos, da liberdade de sonhar sem medo que as prestações atrasem, do frio na barriga das primeiras paixões e do metabolismo mais rápido. Ainda sinto falta de pagar meia entrada, de ter refúgio na casa dos pais, dos meus discos de vinil e da sensação de que quase tudo estava por ser descoberto. Mas, ironicamente, é falta que preenche. São as peças de um mosaico em construção.

É no copo meio cheio que encontramos força e sentido. Priorizar o lamento é torturar a si mesmo

É no copo meio cheio que encontramos força e sentido. Priorizar o lamento é torturar a si mesmo

Sempre tive um pouco de resistência aos que acordam cantando e gargalham sem motivo. Olhava com desconfiança para aquela criatura que parecia brotar de um musical da Disney em plena segunda-feira de trânsito pesado e boletos atrasados. Apostava comigo mesma que mais cedo ou mais tarde os passarinhos verdes haveriam de ceder espaço ao Demônio da Tasmânia que mora em cada um de nós e a hashtag “gratidão” daria lugar a indiretas amargas no Facebook. Até que entendi que, com exceção de alguns poucos que forjam positividade para alimentar vaidades, há um número enorme de pessoas ensinando genuinamente as vantagens de enxergar o mundo com olhos mais otimistas.