Autor: Larissa Bittar

Os cérebros estão ocos. A empatia foi pro saco. A tolerância virou algo descartável

Os cérebros estão ocos. A empatia foi pro saco. A tolerância virou algo descartável

Não sei dimensionar dor, categorizar discussões como quem coloca etiqueta em potes de plástico. Não sei se grafite é arte, se comprar cachorro é monstruosidade, se fui mais lesada pela direita ou pela esquerda. Se não há consenso sequer sobre se o vestido é azul e preto ou branco e dourado, como esperar um olhar linear sobre todas as subjetividades que nos cercam? Mas é preciso um pouco de disponibilidade em compreender as pessoas e toda a carga de vida que as acompanha. Enquanto insistirmos em pisotear aqueles que fogem dos padrões que sacramentamos como corretos, perdemos humanidade.

Aceite elogios sem o dever de retribuir. Gentilezas verdadeiras não exigem pagamento

Aceite elogios sem o dever de retribuir. Gentilezas verdadeiras não exigem pagamento

Cai bem frearmos ímpetos de autobajulação. É admirável o altruísmo que credita a mais gente realizações pessoais. É antipático colocar-se sempre como centro das atenções e forçar os holofotes para si. Mas nada disso impede que sejamos benevolentes com nossos méritos e os enxerguemos como legítimos. É preciso libertar os elogios da cruz que os moraliza sob o argumento de que desvirtuam almas humildes.

O tempo é sempre aliado. Aborrecer-se com ele é estagnar a própria história

O tempo é sempre aliado. Aborrecer-se com ele é estagnar a própria história

Ainda sinto falta do meu Gradiente vermelho e das férias de julho. Sinto falta do entusiasmo dos vinte anos, da liberdade de sonhar sem medo que as prestações atrasem, do frio na barriga das primeiras paixões e do metabolismo mais rápido. Ainda sinto falta de pagar meia entrada, de ter refúgio na casa dos pais, dos meus discos de vinil e da sensação de que quase tudo estava por ser descoberto. Mas, ironicamente, é falta que preenche. São as peças de um mosaico em construção.

É no copo meio cheio que encontramos força e sentido. Priorizar o lamento é torturar a si mesmo

É no copo meio cheio que encontramos força e sentido. Priorizar o lamento é torturar a si mesmo

Sempre tive um pouco de resistência aos que acordam cantando e gargalham sem motivo. Olhava com desconfiança para aquela criatura que parecia brotar de um musical da Disney em plena segunda-feira de trânsito pesado e boletos atrasados. Apostava comigo mesma que mais cedo ou mais tarde os passarinhos verdes haveriam de ceder espaço ao Demônio da Tasmânia que mora em cada um de nós e a hashtag “gratidão” daria lugar a indiretas amargas no Facebook. Até que entendi que, com exceção de alguns poucos que forjam positividade para alimentar vaidades, há um número enorme de pessoas ensinando genuinamente as vantagens de enxergar o mundo com olhos mais otimistas.

A vida melhora 100% quando você aprende a expressar suas vontades

A vida melhora 100% quando você aprende a expressar suas vontades

Dizer o que se sente é colocar-se em primeiro lugar e conceder à vida adulta a maturidade que ela requer. É se dar o direito de expor, sem máscaras e jogos, vontades legítimas, que podem (e devem) ser postas na mesa. Não me refiro à verborragia sem freio que confunde falta de limites com liberdade de expressão. Refiro-me à libertadora possibilidade que temos de substituir as entrelinhas pela necessária e eficiente clareza de sentimentos.