Autor: Larissa Bittar

Ser mãe é bater de frente com a culpa e precisar prosseguir. É dar à luz e também nascer no parto

Ser mãe é bater de frente com a culpa e precisar prosseguir. É dar à luz e também nascer no parto

Há os que tentam explicar essa mistura de leoa que protege a cria rangendo os dentes ao mesmo tempo que a acolhe em braços ternos. Há quem tente nominar esse sentimento que impressiona e intriga. Mas é tolice buscar explicação para a intensidade que sustenta o mais nobre dos amores. É inútil querer entender. Ser mãe apenas é… é peito que chora com o choro da prole, é sono que some com o filho na rua, é sorriso que se alarga com o primeiro passo, o primeiro dente, o primeiro emprego e todo o resto que virá.

Fãs ou não, o Brasil inteiro chora Foto: Marília Mendonça Oficial

Fãs ou não, o Brasil inteiro chora

Marília nasceu na simplicidade interiorana, ganhou alcance nacional, findou-se com reconhecimento mundial. Fez o termo “feminejo” estrear no “NY Times”, foi reverenciada pela Billboard, estampou matérias argentinas, francesas, portuguesas. Com talento despido de amarras extrapolou a barreira que segrega estilos musicais. Homenageada por nomes da MPB, expoentes do hip hop, notáveis do samba, cantores elitistas e parceiros de viola conseguiu que em uníssono um coro engasgado reverberasse o sertanejo em saudação à sua história.

Paulo Gustavo: quando a morte contraria a ordem natural das coisas

Paulo Gustavo: quando a morte contraria a ordem natural das coisas

Ironicamente, a finitude, única certeza que carregamos, é também a causadora dos nossos maiores espantos. Morrer não nos parece razoável, ainda que cláusula pétrea das leis de Deus. Ver morrer quem trilhava menos da metade da história que merecia escrever é desconcertante. A redenção, talvez, esteja nos enredos que a vida, ora implacável, ora generosa, permitiu que fossem traçados. A eternidade, desafio inatingível para a ciência e a medicina, é exclusividade da arte.

Os que ainda têm pulmões fortes têm o dever de gritar

Os que ainda têm pulmões fortes têm o dever de gritar

Está faltando ar. E nem os pesadelos mais pessimistas previram que, meses depois, o negacionismo e ignorância iniciais persistiriam com tanto vigor. Em cada leito que alguém tenta puxar o último respiro de sobrevivência, agoniza também a luta contra a estupidez e a maldade dos que reverberam o descaso personificado na maior liderança política do país.

Não é hora de falar de gratidão. Esse foi o ano da dor

Não é hora de falar de gratidão. Esse foi o ano da dor

À meia noite os céus de Copacabana estarão escuros. Algumas mesas estarão vazias. O colorido dos fogos e dos sorrisos dos que partiram precocemente dará espaço à feição cinza que pintou 2020 de dor. À meia noite o peito apertará mais forte em milhares de lares, que viram 2020 sepulcrar em escala máxima tantos amores e golpear a esperança.