Autor: Larissa Bittar

A criança de ontem ainda se manifesta. Você decide se ela brinca ou tem medo de escuro

A criança de ontem ainda se manifesta. Você decide se ela brinca ou tem medo de escuro

Às vezes me vejo tentada a tirar dos ombros o peso das responsabilidades e ir correndo para o quarto abraçar o travesseiro. A gente resgata do passado o conforto que existia na infância, a possibilidade de curar com Merthiolate e colo de mãe as quedas e feridas. Mas é preciso abrir os olhos, encarar as perdas, vulnerabilidades e obstáculos. É necessário lavar o rosto, tirar a pantufa do Bob Esponja e pagar os boletos. Recordo-me com saudosismo do dia em que conseguir dominar a bicicleta cor-de-rosa era o problema do ano. Por outro lado, é prazeroso e reconfortante ver agora em mim o reflexo da criança que fui e das alegrias e percalços que deram o tom da trajetória até aqui.

O trabalho dignifica o homem. O lazer dignifica a vida

O trabalho dignifica o homem. O lazer dignifica a vida

“Escolha um trabalho que você ame e não terá que trabalhar um único dia em sua vida.” A frase do pensador Confúcio tem sido o mantra de muitos que, embalados pela concepção de que ofício e prazer não precisam se opor, buscam um estilo de vida no qual a fonte de renda seja também fonte de alegria e satisfação pessoal. A questão é: trabalho é sempre trabalho. Pode ser bom, pode ser até divertido, mas não substitui a capacidade que só o lazer possui de tirar o peso de um cotidiano regido por prazos, horários, metas.

Mosquito na madrugada incomoda. Mas ex indeciso incomoda mais

Mosquito na madrugada incomoda. Mas ex indeciso incomoda mais

Mosquito na madrugada incomoda. Sapato apertado também. Vizinho barulhento, vazamento no banheiro, trânsito parado e cólica menstrual incomodam muito. Mas ex indeciso incomoda mais. Toda mulher que já conviveu com um “oi, sumida” na mesma semana de um “não me procure mais” conhece a tarefa espinhosa que é lidar com esse desagradável jogo de “vai e vem”.

Não precisa ser eterno. Basta ser bom

Não precisa ser eterno. Basta ser bom

A gente sofre é com o fim. Há incômodo na relação morna, tédio por viver na cidade que já não comporta nossos planos, frustração no emprego que era dos sonhos e agora é corrente que freia novos passos. Mas a gente aguenta. Levanta o queixo, ajusta falhas, engana a alma, forja felicidade. A gente adestra decepções para fugir do desconcerto que nos assola quando é preciso encerrar fases. E, então, mergulhados na crença capenga de que se um dia foi bom tem potencial para ser imortal, a gente começa a esticar sentimento morto, a repisar terreno gasto.