Autor: Lara Brenner

Reféns de nossas neuroses, nos entregamos a problemas quase sempre inventados

Reféns de nossas neuroses, nos entregamos a problemas quase sempre inventados

Adoro quando, do nada e sem nada esperar, levo uma bofetada na cara dada por alguém supostamente morto. Acontece sempre da mesma forma: estou desprotegida e inocente, quando surge um conjunto de letras que saltam das páginas e aplicam golpes milenares de artes marciais. Caio morta. Uma sacanagem, devo dizer. Essa é a definição de clássico, afinal: uma obra cujos tentáculos se estendem indefinidamente pelo espaço-tempo, sem perder sua mensagem original.

Insistir no amor quase sempre vale a pena. Quase

Insistir no amor quase sempre vale a pena. Quase

Não há dúvida de que se lançar às teias do amor exige coragem, crueza e uma breve nota de insânia. É um movimento para os que guardam alguma elevação em si. Mas a travessia de uma vida compartilhada jamais seria capaz de se equilibrar apenas sobre esse conceito tão subjetivo. Amar é um verbo escorregadio, uma intensa aura capaz de unir pessoas diferentes, que levam a vida de maneira díspar e nem sempre salutar.

Não aceite ser metade num mundo onde se pode ser inteiro

Não aceite ser metade num mundo onde se pode ser inteiro

Há dias em que dá vontade de comer o mundo com uma colher. Bebê-lo fumegante, queimando o esôfago, até que finalmente proteja o estômago da fome de tudo. Essa sensação não costuma pedir licença: às vezes surge ali, em meio à rotina manhosa, em que tudo repousa no devido lugar, e cresce enquanto o sangue bombeia inconsequente nos ouvidos.

Amiga-irmã, amigo de infância, amigo distante, amigo grudento. São eles que remendam o ânimo

Amiga-irmã, amigo de infância, amigo distante, amigo grudento. São eles que remendam o ânimo

Amigo é essa coisa curiosa, que está com você apenas porque quer. Com o tempo, tornam-se mais raros, mas aqueles remanescentes se fortificam na permanência. Amizade é dar a mão e oferecer o braço antes que você saiba que precisa dele. É ser a corda que aparece como um milagre no fundo do poço; o beijo carinhoso no meio dos cabelos que se embranquecem a cada dia; o dedo que desvia o percurso da lágrima; o colo que sempre está ali, mesmo quando não está.

A maior prisão que alguém pode viver é o medo do que os outros pensam

A maior prisão que alguém pode viver é o medo do que os outros pensam

Se alguém rejeita uma opinião, por exemplo, não significa que esteja rejeitando a pessoa inteira. Se, em alguma festa, ninguém aborda minha amiga, talvez signifique apenas falta de sintonia, ou que todos ali estão comprometidos, ou que simplesmente não estão a fim. Se, porém, a rejeição for da pessoa por inteiro, vale questionar por que e até que ponto aquela negação tem, de fato, alguma relevância.