Autor: Giancarlo Galdino

Um dos diretores mais eruditos da história do cinema, Denis Villeneuve compõe em “A Chegada” um quadro científico — e altamente filosófico — para tentar dar respostas acerca dos grandes mistérios da humanidade. O argumento do uso da língua como forma de subjugação de povos menos desenvolvidos não é novo, mas Villeneuve acrescenta muitas perspectivas sobre o tema e entrega decerto um dos filmes mais nobres de todos os tempos. Villeneuve é um deus.

A filosofia, o amor pela sabedoria, só cabe a quem se reconhece ignorante, sempre falto de saber muita coisa numa vida tão curta. A cada nova alvorada, mais evidente se torna a convicção de que o homem, cada um de nós, não tem a menor possibilidade de desvendar o grande mistério da existência: para que vivemos e por que chegamos até aqui — só se pode inferir que alguma razão há, ou inúmeras.

Muito mais do que replicar uma história de amor besta de um escritor medíocre, “Diário de uma Paixão”, dirigido pelo americano Nick Cassavetes, artista de pai e mãe, é de longe o filme romântico mais interessante já produzido em 20 anos. Malgrado alguns deslizes, o enredo, sobre as dificuldades tão específicas do amor entre pessoas de mundos distintos, é um primor de originalidade e poesia ao decantar a grandeza — e as misérias — do mais humano dos sentimentos.

O agastamento frente aos tantos atritos da comezinha existência humana nunca deixou o homem que, teimoso, não se submete e procura uma forma de exorcizar seus fantasmas. A complexidade muitas vezes inexequível das relações entre os homens nos abate: não sabemos a quem recorrer, aonde ir, como nos comportar. Só o que temos em mente é dar um jeito naquele mal-estar o mais breve possível, a fim de seguir com a vida.

Alegoria sobre uma das emoções mais plenas de sentido a se concretizar na vida da maioria das mulheres — por mais que o mundo tenha girado tanto e tão depressa —, “Mãe!”, de Darren Aronofsky, é um tratado religioso do ponto de vista de um diretor refinado intelectualmente, sensível, arguto — e ácido. No filme, Aronofsky subverte todos os clichês do que se apresentou a respeito do batidíssimo tema da criação da humanidade por meio de filme inacreditavelmente original, poético, ainda que duro, e revelador.