Autor: Giancarlo Galdino

Muitos literatos já se perderam em elucubrações sobre o ato de escrever, uma atividade tão penosa como gratificante, sem chegar a conclusões muito clarividentes. A verdade é que escrever, como qualquer trabalho, requer talento, qualidade disposta entre os homens de maneira nada justa, como mostra “O Autor”, de Manuel Martín Cuenca, filme que se vale de diversos recursos narrativos a fim de explicar o que vem a ser um dom, seja para contar uma história ou para bordar uma toalha.

“Pieces of a Woman” (2020), primeiro filme em língua inglesa do diretor húngaro Kornél Mundruczó, também parte de um plano-sequência milimetricamente estudado e da mesma forma que nos antecessores, as falas são disparadas a sangue frio sobre o público — e o mais contraditório (e genial) é que nenhuma é por acaso; tudo o que é dito na trama, em especial nos primeiros 25 minutos, tem uma razão especial de ser.

O filme de Chris Baugh se vale de um protagonista valentão a fim de se desdobrar sobre a eterna sanha do homem por reparação, mesmo que merecida em muitos casos, mas que ainda que nos fará voltar aos tempos em que a lei de Talião era aplicada sem a menor cerimônia. Quase quatro mil anos depois.

A incerteza da vida, uma sucessão de eventos quase sempre ilógicos, até inverossímeis, faz com que duvidemos da capacidade que temos todos de vencer desafios ou, na pior das hipóteses, encontrar uma saída honrosa para uma circunstância que nos empurra ao abismo do desespero. “Paddleton”, do diretor Alexandre Lehmann, se vale de um argumento eminentemente dramático, trágico até, a fim de questionar se viver é mesmo uma experiência sempre gratificante, ainda que surja uma imensa pedra no caminho. A resposta é surpreendente.

“Udta Punjab” data de 2016, quatro anos antes da pandemia de covid-19, mas a pandemia da droga castiga o mundo há quase 2.500 anos, quando, na Grécia Antiga, Heródoto relatou o consumo de maconha apenas em circunstâncias inicialmente restritas. O trabalho do diretor hindu Abhishek Chaubey joga luz sobre a realidade do abuso de entorpecentes, nítida em todo o mundo, e agravada por certas “manifestações artísticas” e determinados “astros”, facínoras que ajudam a perpetuar essa chaga.