Autor: Giancarlo Galdino

Há filmes que dependem em proporção direta de seus protagonistas e dos atores que lhes dão vida para alçar voo. “Minha Vida Perfeita” consegue o feito, não por partir de uma premissa tola ou absurda demais — muito pelo contrário —, mas porque a afinação entre elenco e a história que se deseja contar é, sim, rara. O diretor polonês Łukasz Grzegorzek mantém seu filme no alto e fala sobre as agruras de uma mulher exilada na própria vida com uma espantosa leveza. É pena que o que é bom sempre acaba rápido demais.

Em sociedades milenares como a Índia funerais são, muitas vezes, a oportunidade que os vivos têm para, entre choro, fofoca, brigas e tramas, colocar em pratos limpos imbróglios que se arrastam há gerações. “Garota Estranha” é isso também, mas não só; o filme do diretor hindu Umesh Bist parte da infidelidade de um homem, descoberta pouco depois de sua morte, para discorrer sobre a irrelevância e o perigo de costumes acintosamente invasivos, que têm o poder de arruinar a vida de uma pessoa.

Na capital da Turquia, como em qualquer outra grande cidade, a exemplo de São Paulo ou Nova York, catadores de materiais recicláveis fazem a festa em meio ao luxo do lixo das casas dos bairros mais abastados. O ofício é aprendido desde cedo e a equação rua, droga farta, fácil e barata, instabilidade emocional e desagregação familiar resultam, não raro, na tragédia de uma infância perdida, à margem, que degringola em mais pobreza e criminalidade.

Às vezes é necessário deixar que nossa porção criança venha à luz para que então possamos admirar aqueles filmes que passam ao largo de nossos interesses do dia a dia, mas que nos encantam, plenos de uma nostalgia que nos leva a desejar com ardor que um buraco negro nos conduza de novo à época mais ingênua de nossas vidas. “Homem-Aranha: No Aranhaverso”, de Bob Persichetti, Peter Ramsey e Rodney Rothman, desperta em crianças de todas as idades a beleza do sonho, adormecido pela feiura do mundo, mas sempre pronto a renascer com a força do cinema.

Vira e mexe, o fim do mundo sai das cabeças e das bocas e vem para o cinema. O cinema apresenta desde sempre filmes, bons e ruins, acerca do tema, e os primeiros, por óbvio, sempre são capazes de aprofundar a discussão, trazendo à baila abordagens inovadoras — e mesmo revolucionárias — sobre a possibilidade de extinção do homem.