A história que a diretora decidiu contar aqui — a desagregação de uma família por causa de uma guerra entre povos até então próximos, e a posterior instalação de uma tirania comunista —, não obstante tropece em aspectos históricos pontuais, prima pela ousadia e beleza.
Fazer algo novo, trazer à baila iluminações sobre temas que se acreditavam superados é para quem estrela, corpo celeste dotado de luz própria que ilumina os demais. Na constelação de falsos brilhantes e satélites perdidos do cinema, figura, ou melhor, continua a figurar Jim Jarmusch, que com joias como “Os Mortos não Morrem”, deixa claro que certas coisas precisam ser ditas até o fim dos tempos.
Cada vez mais plural, mais complexo, mais rico e, sobretudo, sempre pleno de sensibilidade, os filmes espanhóis têm refletido a ânsia por sensibilidade, por beleza, abordando os assuntos atávicos do homem de um jeito arrojado. Como faz a diretora María Ripoll em “Viver Duas Vezes”, em que conduz um drama com toda a comicidade de que a tristeza também se reveste.
Filmes de ação, como todo filme, aliás, têm sempre um pano de fundo, uma mensagem nas entrelinhas, um discurso mais ou menos oculto. Sam Hargrove, diretor de “Resgate”, se vale do roteiro bem elaborado de Joe Russo para falar de pobreza, maldade, crime, morte e tudo o mais que tange a dureza da vida, sem resvalar para a doutrinação ou para o proselitismo puro e simples. Para tanto, a dupla centra fogo mesmo é na violência, amplamente apreciada, o que, por si só, também é um indicativo de como o espectador absorve o mundo que o cerca.
Poderíamos abdicar de um trabalho maçante, em que sabidamente somos explorados, e procurar outra colocação, sem garantia de nada? Essas são algumas das indagações suscitadas por “El Patrón: Radiografía de un Crimen”, em que o diretor argentino Sebastián Schindel apresenta uma das faces mais duras do capitalismo, tanto mais impiedoso com os mais humildes.
