Autor: Giancarlo Galdino

No bíblico “Gênesis” já se discorria sobre o mais humano dos sentimentos. Adão e Eva se amavam tanto, era tamanha a felicidade, a plenitude daquele amor que, inexoravelmente, apareceu uma serpente pra melar o lance. Veio uma infinidade de outros casais, tão ou mais infaustos e plácidos, ou daquela civilidade tão excessiva e quase metódica, tocando as franjas da indiferença, que é justo o seu contrário, e não o ódio.

A mensagem de “A Caminho do Verão” pode não ser original — e não é mesmo —, o que definitivamente não significa que não mereça atenção. E isso muito por causa da forma como a diretora Sofia Alvarez expõe as situações conflituosas tão características da adolescência na boca de uma representante muito, mas muito incomum para esses padrões.

As vidas, negras ou não, importam cada vez menos, principalmente se por trás delas há uma gente desassistida, despossuída, incapaz de despertar a compaixão de quem quer que seja, porque não rendem lucro. Em “Inspire, Expire”, a diretora islandesa Ísold Uggadóttir explora esse argumento a fim de tecer um paralelo entre a trajetória de uma imigrante ilegal e uma mulher ignorada pela própria terra.

O roteiro de Hilditch remonta aos contos de horror de escritores menos sofisticados como Edgar Allan Poe (1809-1849), caso também do próprio Stephen King, mas vai escalando a pedreira da questão moral por trás do conflito anímico de Wilfred, com cuidado e sem capitulações, e nisso o enredo até ombreia com o Dostoiévski de “Crime e Castigo” (1866).

A dureza do trabalho na polícia não é para o bico de qualquer um — admitindo-se apenas seus quadros honestos e talentosos, por evidente. Perseguir mil bandidos, haver-se com chefes presunçosos e truculentos e, vez por outra, encarar parcerias que têm tudo para frustrar a todos são parte da rotina de homens e mulheres da lei, como mostra o francês Louis Leterrier em “Os Opostos Sempre se Atraem”, comédia de narrativa formulaica, mas certeira.